De O GLOBO

Por GUGA CHACRA

Mohammad bin Salman aumentou a repressão contra opositores e familiares que permanecem na Arábia Saudita

A ditadura da Arábia Saudita condenou à morte, provavelmente por enforcamento, um professor aposentado com pouco mais de dez seguidores no Twitter, agora chamado de X, por ter feito críticas ao regime do esquartejador Mohammad bin Salman, dono de facto do fundo soberano saudita proprietário dos quatro maiores times de futebol do país árabe, onde atuam NeymarCristiano Ronaldo, Mané, Benzema e Firmino, além de um deles ser treinado pelo português Jorge Jesus.

A condenação ocorre pouco mais de uma semana depois de o Human Rights Watch acusar a ditadura saudita de massacrar centenas, e talvez milhares, de imigrantes africanos que tentavam cruzar a fronteira em direção ao país do Golfo Pérsico – os EUA já possuíam conhecimento das mortes, mas o governo de Joe Biden teme se contrapor a Bin Salman em um momento em que Washington negocia a formalização das já ótimas relações entre Arábia Saudita e Israel.

Estas são apenas as mais recentes atrocidades de um regime que cometeu crimes contra a humanidade na Guerra do Iêmen, mantém um apartheid contra as mulheres, considera a homossexualidade crime, persegue minorias religiosas como os xiitas e proíbe igrejas e sinagogas. Além, claro, de ter ordenado o esquartejamento do jornalista dissidente Jamal Khashoggi.

Alguns podem se perguntar o motivo de um professor aposentado pai de sete filhos incomodar tanto uma poderosa e trilionária ditadura por seus posts no Twitter. Na verdade, o alvo do regime de Bin Salman é o irmão de Mohammed bin Nasser al-Ghamdi, que é um opositor à ditadura asilado no exterior. Depois de esquartejar Khashoggi, Bin Salman sabe que não pode sair matando pessoas em qualquer lugar do mundo. Prefere agora matar os parentes que ficaram na Arábia Saudita.

Mas, claro, muitos preferem debater sobre quando Neymar estreará no Al Hilal e se Salah também trocará a Premier League pela Liga Saudita, em um time que também pertence ao esquartejador. Parece que isso é mais importante.

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