Par perfeito

Por SÓCRATES

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Um excelente exemplo de par perfeito no mundo esportivo é algo difícil de acontecer. Como Zico e o Flamengo, Rogério Ceni e o São Paulo ou Marcos e o Palmeiras. Principalmente nos dias de hoje, quando a fidelidade para com o clube anda tão em baixa que a maioria dos atletas mal tem tempo de conhecer o nome dos companheiros. Sinal dos tempos, meus caros!

Antigamente, encontrávamos muito pouca migração de jogadores de alto nível e em alguns casos só de pensar na possibilidade do ídolo de um grande clube se transferir para o rival já seria motivo para verdadeiras guerras entre torcidas e pensava-se até em excomungar os dirigentes envolvidos – acredito que não poucas vezes dom Paulo Evaristo Arns deve ter tido impulsos nesse sentido refreados por sua formação teológica.

Isso ocorria simplesmente porque os atletas permaneciam muito tempo vestindo uma única camisa. Com isso, não havia a mínima possibilidade de uma passagem fria, distante e pouco afetuosa com seus contratantes. O amor se instalava imediatamente, às vezes, ou, o mais comum, gradativamente.

Por isso se fala tanto no tal de “amor à camisa” nos dias de hoje, quase como um saudosismo. Muita coisa se alterou, porém, de lá para cá, o que na maioria das vezes impede que esta afeição se estabeleça. Temos, no entanto, neste século caracterizado pelo individualismo, alguns exemplos do mais alto teor de fidelidade. Alguns já citados acima e um, em particular, extremamente peculiar, dado o resultado alcançado.

Falo de Juninho e do Lyon, clube que o recebeu em solo francês e onde conquistou um inédito heptacampeonato, invicto até o presente ano. Ano em que se despede, para talvez retornar à sua terra natal. Para um clube de tão poucas tradições, como era o Lyon até a sua chegada, esse feito é extraordinário. Dá para imaginar o apreço que os torcedores e moradores daquela bonita e agradável cidade têm em relação ao Juninho e sua família.

A despedida, neste caso, é muito dolorida e certamente toca profundamente o coração dos envolvidos. Um amor “de fato” nascido no seio de uma relação e de um ambiente profissional. Caso raro e extremamente sugestivo. O acordo para permitir a sua saída precoce, já que ainda tinha um ano de contrato, só se viabilizou por causa dessa afetividade criada e potencializada nos anos de convivência. Algo para refletir e que pode ser estendido a qualquer contexto que se pretenda quando se discutem as relações humanas e suas consequências. Nada equivale a isto.

Novos protagonistas

Os árbitros brasileiros têm sido frequentemente (novos) protagonistas dos domingos de futebol, como foi o caso do juiz que apitou São Paulo e Palmeiras há poucos dias, cuja atuação beirou o colapso. Um pênalti em Diego Souza que ele não deu, mesmo a metros do lance, é um caso a se pensar em profundidade, porque não pode ser cegueira ou incompetência.

O chute no tornozelo do atacante palmeirense que o zagueiro Miranda deu, além de demonstrar falta de fundamentos preciosos do defensor, que a mídia insiste em endeusar, foi capaz de tirar os dois pés de Washington do chão, jogando por terra, além da possibilidade do gol, qualquer alusão, por menor que fosse, a uma cena teatralizada.

Impossível não ver, impossível não interpretar como falta, e inadmissível que o pênalti não tenha sido marcado. Ele, no entanto, mandou o jogo correr como se nada tivesse acontecido, muito menos o gesto faltoso. É por estas e outras que continuamos imaginando o quanto de manipulação poderá existir no resultado de uma partida de futebol, enquanto esta continuar sendo objeto de avaliação por parte de um único indivíduo, como se fosse infalível.

Volto mais uma vez a um tema fundamental: por que não utilizar recursos eletrônicos e/ou mais de um árbitro nas decisões capitais. Só pode ser porque uma única cabeça possui muito mais possibilidade de errar e, o que é pior, esta eventualidade é defendida por um processo ideológico irracional que diz que o futebol só é o que é por causa da ocorrência desses percalços.

Mas, deixando os discutíveis juízes de lado, pudemos ver uma partida em que os goleiros fizeram o show (novos protagonistas, também). Muito por suas qualidades. Mas muito mais por inabilidade dos atacantes do futebol de hoje em dia, que insistem em contrariar a regra de que dentro da área tem que ter jeito e não força, além de deixarem de olhar para os arqueiros antes de concluírem as jogadas — erro crasso de fundamento básico. Culpa, lógico, da falta de capacitação de quem tenta ensinar futebol aos nossos meninos.

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