Ontem, Wesley Melo, diretor de finanças do Corinthians, disse que o clube já pagou R$ 165 milhões sobre o empréstimo tomado junto ao BNDES, intermediado pela CAIXA, para construção do estádio de Itaquera.

A Presidente da CAIXA disse, em entrevista, que nada foi pago.

Vamos aos fatos.

Há um contrato assinado de empréstimo para construção da obra, no valor de R$ 400 milhões, em que as primeiras parcelas amortizariam os juros e, depois, o valor principal.

Todo o montante, porém, seria retirado do lucro da operação financeira do estádio, repassado ao Arena Fundo, que realizaria a transferência à CAIXA.

Wesley Melo falou meia verdade ao dizer que o Corinthians destinou R$ 165 milhões ao banco.

Trata-se de uma impossibilidade.

A quantia, efetivamente, saiu dos caixas do Timão (proveniente das rendas dos jogos), mas paga, como contratualmente prevista, ao Fundo.

Não se sabe, porém, o quanto deste montante foi destinado à quitação do empréstimo, porque os informes são obscuros.

Ainda que 100% tivesse sido utilizado, teria amortizado apenas parte dos juros.

Há documentos que comprovam pagamentos à Odebrecht, assim como a outros prestadores de serviço, alguns ligados a cartolas do clube, como escritórios de advocacia e até o de auditoria.

O Fundo, há alguns anos, deixou de pagar as parcelas da CAIXA, originando notória ação de cobrança, com direito a execução, promovida pelos credores, estimada em iniciais R$ 536 milhões (R$ 400 milhões mais correções).

Por que o Arena Fundo parou de pagar?

O Corinthians, inadvertidamente, passou a embolsar o dinheiro do estádio e destiná-lo a outras despesas.

Não à toa, o balanço do Fundo demonstra que o Timão lhe deve quase R$ 60 milhões.

Em especulação, existe a possibilidade – a ser comprovada – da Presidente do banco ter se referido ao valor principal (R$ 400 milhões) ao dizer que nada havia sido pago pelo Corinthians até aquele instante.

O que não deixa de ser preocupante.

A informação corrobora, inclusive, com os novos termos acordados entre as partes, em que a diretoria do Corinthians aceitou pagar, somente após mais um ano de carência, os juros da empreitada, passando a reduzir o real valor da dívida, tratado como ‘principal’, somente em 2025, quando Duílio ‘do Bingo’, atual presidente, já estiver de férias, talvez, no paraíso fiscal em que mantinha conta bancária.

Outra especulação, que se confunde com fatos, são os pagamentos das parcelas da nebulosa transação dos naming-rights do estádio.

Em setembro de 2020, quando anunciou o contrato, com direito a show e transmissão ao vivo, o Corinthians deu início ao serviço, envelopando a Arena em adesivos da Hypera Pharma, renomeando a praça esportiva.

Nada, porém, havia assinado.

Somente na virada do ano o acordo foi aprovado pela diretoria do patrocinador, sendo formalizado, consequentemente, em data posterior.

Desde então, inexiste comprovação de pagamentos dos R$ 30 milhões devidos, até o momento, referentes a duas parcelas anuais de R$ 15 milhões.

Quando questionado, o presidente do Corinthians afirmou que a Hypera havia pagado, diretamente, à CAIXA.

A explicação destoa dos fatos.

Através de sua presidente, em discurso notório, a CAIXA desmentiu.

Nos balanços de Corinthians e Arena Fundo – que é o local a que deveriam ser destinados os repasses – também não constam pagamentos.

Trata-se de nebulosidade excessiva para quem governa o clube sob lema de ‘transparência’.

No extrato final, sobrou a dívida de R$ 611 milhões, dos R$ 400 milhões anunciados primeiramente, dos quais a amortização principal será iniciada somente em 2025, com os juros sendo honrados – se forem, daqui um ano.

Se tudo isso der errado, conforme confirmado pelo próprio diretor de finanças do Corinthians, bens e direitos relevantes, como recebíveis de tv e até jogadores de futebol serão confiscados, impacto terrível a ser sentido somente pelas próximas diretorias.

Facebook Comments