14 bis olimpíadas

Surpreendente, ousada e absolutamente criativa, a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos 2016 foi arrebatadora.

Este jornalista, embasado na pavorosa festa que abriu a Copa do Mundo e no habitual mau gosto dos organizadores de shows brasileiros, esperava pelo pior, mas se encantou.

Fruto de mentes criativas, em que estava inserido, por exemplo, Fernando Meireles, dos maiores cineastas contemporâneos.

A música brasileira foi divida em quadros de atuações, quando não dos próprios compositores e cantores, doutros mais populares, porém, inteligentemente, à margem de suas pobres criações, esforçando-se em desempenhos de músicas consagradas pela história nacional.

O visual foi deslumbrante, fruto de criativas projeções (cinema puro, ao vivo) em telas de LED instaladas no gramado do estádio do Maracanã, em que, por cima, coordenadamente, dançarinos interpretavam uma mescla de folclore nacional com teatro de rua, contando fatos históricos de nossa composição (desde antes de Cabral) até os dias atuais, bem mais preocupantes.

Teve espaço para diversas mensagens políticas (principalmente sobre meio ambiente) e a extraordinária sacada de produzir uma nova floresta no Rio de Janeiro, baseada em árvores (milhares) erguidas a partir de sementes plantadas ao vivo pelos atletas participantes dos Jogos.

Ah! Quando o 14 Bis voou e Gisele desfilou olhando para Jobim… tudo parou.

O pior momento da festa, absolutamente previsível, sem que os produtores possam ser culpabilizados, foi o discurso populista de Carlos Nuzman, representante do COB, do Comitê Organizador das Olimpíadas e do que há de pior na cartolagem mundial, entrelaçado por seus famosos tiques e dissimulações habituais.

Ninguém, porém, se engana mais com ele, vaiado que foi.

Em sequencia, antes do final (outra inovação), as delegações desfilaram, não ao redor do gramado, mas pelo centro dele, como se estivessem numa grande passarela, ritmizados por sambistas que ditavam o tom de seus passos.

Atletas consagrados em meio a novatos, emocionaram-se, com os brasileiros, em êxtase, os 207º a entrarem no estádio, pulando como se fossem torcedores.

Quem piscou quase não viu o presidente Michel Temer declarar a abertura oficial dos Jogos, tamanha a rapidez do corte de câmera (evidentemente combinado para não alongar os protestos), porém, boa parte dos que viram, vaiaram, em meio a tímidos aplausos.

Daí por diante a festa seguiu para a apoteose, com novos quadros musicais e o tão esperado acendimento da Pira Olímpica (linda, em formato de Sol), iniciado com a corrida de Guga do lado de fora do Maracanã, intermediado por Hortência, quase aos pés do objetivo final, que repassou a Vanderlei Cordeiro de Lima, imortalizado, mais uma vez, desta vez como portador do fogo que permanecerá aceso pelos próximos 17 dias.

Diante de tantos descalabros, má-utilização de dinheiro público, entre outros problemas conhecidos desta organização olímpica, a cerimônia de abertura (não protagonizada pela cartolagem) escapou de fazer parte do vexame, entrando para a história como uma das melhores realizadas em todos os tempos.

vanderlei cordeiro

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