Por JOSE RENATO SATIRO SANTIAGO
O calendário do futebol brasileiro, principalmente entre as décadas de 1940 e 1960, tornava possível a realização de excursões.
Durante semanas e algumas vezes, até mesmo meses, equipes de grande e médio porte viajavam para cidades do interior e de outros estados para realizar amistosos.
Muitos talentos foram descobertos desta forma.
O meu tio, Fernando Sátiro, por exemplo, foi contratado pelo São Paulo, em janeiro de 1958, após uma partida do Tricolor frente ao Ceará, onde sequer jogava, regularmente.
O mais curioso é que ele chegou a fazer um gol contra logo aos 3 minutos de jogo.
Segundo ele, por medo de apanhar do resto do time, tratou de jogar muito no resto do tempo.
Acabou contratado pela equipe paulista onde atuou por quase 100 partidas.
Estes amistosos também serviram para promover encontros inusitados, alguns deles entre jogadores famosos e outros por personagens que de algum forma, após alguns anos passaram a ter certa influência no futebol brasileiro.
O dia 1° de maio de 1950 proporcionou um destes momentos.
Vindo de Tupã, onde vencera a equipe local por 4 a 2 no dia anterior, o São Paulo estava em Bauru para realizar um amistoso frente o Bauru Atlético Clube, o BAC, que completava 31 anos de existência.
O técnico tricolor era um novato nesta função, o imortal Leônidas da Silva, que tinha encerrado sua carreira ao final do ano anterior como bicampeão paulista pelo mesmo São Paulo.
Ele usaria aquela partida para fazer alguns testes naquela equipe que tinha disputado o torneio Rio – São Paulo no começo daquele ano.
Embora novo na função, Leônidas, inegavelmente, sabia tudo de bola e tinha como principal objetivo formar uma equipe com novos valores.
Naquele dia o São Paulo entrou em campo com Mário, Savério, Saltore, De Paula, Alfredo, Jacob, Marin, Augusto, Bóvio, Leopoldo e Teixeirinha.
Ressalta-se em sua escalação a presença do atual mandatário da CBF, José Maria Marin, naquele tempo citado apenas como Marin.
Marin tinha apenas 17 anos e era um atacante que despontava como provável jogador que pudesse fazer parte daquela equipe.
Leônidas tinha testado Marin pela primeira vez, cerca de 15 dias antes, ao colocá-lo no lugar de Dido na derrota por 3 a 2 em partida amistosa frente ao Guarani.
Naquela partida, seria titular pela quinta vez seguida.
O Tricolor tinha uma equipe muito forte, e ao que tudo indicava o BAC seria uma presa fácil.
Não foi…
Coube a um atacante do BAC abrir o placar aos 20 minutos do primeiro tempo, seu nome, Dondinho.
Sim, ele mesmo, o pai de Pelé, com então 34 anos de idade.
Sabe Deus se Pelé, com 9 anos, não estava na arquibancada assistindo esta partida.
A verdade é que o BAC vencia o atual bicampeão paulista com um gol de Dondinho.
Era muita alegria para os bauruenses.
Bóvio empatou a partida para o São Paulo aos 37 minutos daquele primeiro tempo.
Mais dois minutos e o tricolor virou o placar.
Gol de quem?
Marin…
O São Paulo ainda faria mais um gol, através de Ponce De Leon.
Dondinho certamente voltou para a casa, orgulhoso por sua atuação.
Seu filho também.
Meses depois, segundo palavras do próprio Rei Pelé, após a vitória uruguaia na final da Copa do Mundo, coube a ele consolar Dondinho e fazer uma promessa: “…trarei o título para o Sr.”
Quanto a Marin, mais algumas partidas e ele seria sacado da equipe.
Ficou no tricolor até 1952.
Sua história, como jogador, se resumiu a poucos jogos.