Durante todo o dia de ontem, a grande imprensa do país tratou o caso do acidente envolvendo a Ferrari Spider 458, avaliada em R$ 2 milhões, com absoluta superficialidade.
Certamente não agiriam assim se o condutor do veículo fosse, digamos, alguém menos abastado.
Talvez por desleixo ou motivos inconfessáveis, o empresário José Romano Netto, o Zeca, que dirigia o veículo, não foi devidamente investigado, sendo então tratado como mero empresário do ramo imobiliário, dono da Farm Empreendimentos Imobiliários Ltda.
Resolvemos nos aprofundar no assunto, descobrindo não apenas mais detalhes sobre o motorista, como também a origem, meio e fim de toda a negociação.
Em primeiro lugar fica a óbvia impressão de que o empresário, assim como de hábito nesse país de cultura sonegadora, comprou um bem para fins particulares em nome de pessoa jurídica, no claro intuito de pagar menos imposto.
Registrou-o em nome de sua empresa menos famosa, porque, como observaremos a seguir, diferentemente do que foi dito, se tem algo que nada tem a ver com o referido empresário, é o ramo imobiliário.
O REI DO TRANSPORTE PÚBLICO
Tratar José Romano Netto (foto), 38 anos, como mero dono de imobiliária é o mesmo que imputar a Silvio Santos o título de “apenas” vendedor de cosméticos por ter no seu rol de atividades uma empresa que negocia o produto.
Na verdade, Zeca, integrante da tradicional família Braga, é o Rei do Transporte público no ABC.
Com ligações fortíssimas no âmbito político, entre elas sindicatos, Ronan Maria Pinto e gente do PT.
Participa também, nas horas vagas, do Iron Man, a maior prova de triátlon da américa latina, com 3,8 km de natação, 180,2 km de ciclismo e 42,2 km de corrida.
Dono da SBC TRANS, é também integrante do grupo da Auto Viação ABC, ambos comandando quase 100% do transporte coletivo na região.
Recentemente, incorporaram, também, Interbus Transporte Urbano e Interurbano e Empresa Auto Ônibus Circular Humaitá.
Por consequência de tanto poder, ocupa também o cargo de presidente da AETC (Associação das Empresas de Transportes Coletivos do ABC).
OUTRAS EMPRESAS DE JOSÉ ROMANO NETTO
O empresário e triatleta José Romano possui ligações com empresas de diversos setores de atividade, além do já mencionado transporte público.
Embora, muitas vezes, segundo apuração, somente no papel.
Além da referida “imobiliária”, a FARM, há outras, até de bom porte, complementando a relação.
São elas:
ORANGE PRESTACAO DE SERVICOS LTDA.
SL BRASIL PARTICIPACOES LTDA.
PONTO NEWS S/C LTDA.
DIASTUR TURISMO LTDA.
CARTAO LEGAL – SISTEMAS DE AUTOMATIZACAO E GERENCIAMENTO LTDA.
SUN EMPREENDIMENTOS E PARTICIPACOES LTDA.
CONSTRUTORA CAPPELLANO LTDA.
PLENA ASSISTENCIAL LTDA.
LAND EMPREENDIMENTOS IMOBILIARIOS LTDA.
OS CAMINHOS DA FERRARI
A Ferrari Spider 458, uma das sete que foram negociadas no Brasil, foi importada, pela concessionária VIA ITÁLIA, em nome da empresa Cotia Vitória Serviços e Comercio Ltda, denominada também Cotia Trading.
Que tem filiais, com a mesma razão social, nas Ilhas Cayman e também no Uruguai, conhecidos paraísos fiscais.
Empresa, das maiores do Brasil, no ramo do Comercio Exterior, porém investigada por diversas irregularidades, entre elas contra-bando, falsificação, corrupção, etc.
No link abaixo você tem acesso a uma das denúncias.
http://revistaepoca.globo.com/Revista/Epoca/0,,EMI32454-15223,00.html
Estranho notar que o veículo, assim que registrado pela Cotia Trading, no dia 14 de abril de 2013, logo sofreu processo de transferência para o nome da “imobiliária” de Zeca, sendo emplacado em 23 de abril.
Uma operação triangular, inusual, e que deveria ser investigada com mais seriedade pelos órgãos públicos.
Até porque o histórico da Cotia Trading é assustador.
Os maiores acionistas são herdeiros do banqueiro Pedro Conde, já falecido.
Já há algum tempo o nome forte do grupo é o empresário Eduardo Mangabeira Albernez (foto), amigo de José Romano Netto.
Também ligado ao esporte, Albernez é iatista, amigo de Robert Sheidt, por vezes se arriscando também no hipismo.
Tempos atrás a COTIA TRADING foi suspensa de atuar pela Receita Federal por importação irregular de Home Theater.
http://www1.folha.uol.com.br/fsp/dinheiro/fi2806200602.htm
Episódio que ocasionou uma estranha “dança” de aberturas e fechamentos de filiais, mudanças de estados (Rio Grande do Norte, São Paulo, etc.), além de movimentação contínua de sócios nos documentos oficiais.
A PASSAGEIRA
Outro grande mistério foi a não revelação do nome da passageira que estava no veículo conduzido por Zeca.
Nossa apuração chegou a dois nomes, uma do meio artístico, outra atleta, que supostamente faziam, digamos, hora extra para levantar recursos que não podem ser contabilizados.
Pessoas de relação habitual e comercial com o empresário.
Não há como afirmar, categoricamente, até então, qual das duas se encontrava no local no momento do acidente.