Da FOLHA

Por SANDRO MACEDO

‘Não gostei!’, disse Hermoso, ainda no vestiário, sobre o beijo do dirigente espanhol

Jenni Hermoso, camisa 10 da Espanha, falou ainda em campo, quase chorando, emocionada com o inédito título de sua seleção na Copa feminina, disputada na Austrália/Nova Zelândia.

Na final, a seleção venceu a Inglaterra, que tinha um leve favoritismo, por 1 a 0. E Hermoso ainda perdeu um pênalti no tempo normal. Em sua primeira entrevista pós-título, falou que aquele era o dia mais feliz de sua vida.

Momentos depois, um beijo na boca, não consentido, estragou o que era para ser apenas festa da Espanha. Foi no pódio da premiação quando o patético presidente da federação espanhola, Luis Rubiales, achou que estava no churrasco do clã Rubiales, segurou a cabeça da atleta com as duas mãos, após abraçá-la, e deu um beijo em sua boca.

Na hora ninguém percebeu direito e ninguém chamou a atenção para o fato na transmissão. A própria rainha Letizia da Espanha estava no pódio recebendo as jogadoras e a ação de Rubiales passou despercebida. Porém o beijo arrancado viralizou nas redes e Hermoso se pronunciou em uma live ainda no vestiário. “Não gostei”, disse.

Desde o beijo de Michael Corleone no irmão Fredo, em “O Poderoso Chefão 2”, em pleno Réveillon, um beijo não era tão estraga festa como esse.

O beijo de Rubiales conseguiu superar o constrangimento do pódio na Copa masculina, quando Messi foi obrigado a usar uma capa preta antes de levantar a taça no Qatar.

No Qatar ou na Austrália, evidentemente, a Fifa não se pronunciou.

Como presidente da federação espanhola, Rubiales tem uma relação hierárquica com comissão técnica e jogadoras. Ele é o chefão e se aproveitou dessa condição, o que torna tudo pior.

Nesta segunda (21), dia seguinte ao título, Rubiales pediu uma desculpa bem esfarrapada, querendo dizer que o mundo não soube interpretar um gesto que é comum na Espanha.

Na Espanha, no Brasil, na Austrália e em boa parte do mundo, beijo não consentido é assédio. É o mesmo tipo de assédio que vemos (e reclamamos) contra repórteres mulheres em porta de estádio, quando são atacadas por torcedores que acham normal, tocar ou se aproveitar de qualquer mulher que passa à sua frente. Não é normal. No Brasil, o presidente anterior da CBF, Rogério Caboclo, foi afastado após acusação de assédio contra uma funcionária (num caso mais grave).

Ministros e autoridades espanholas já se manifestaram após o episódio, classificando o beijo de Rubiales como uma ação inaceitável. Mas já está na hora de a Espanha passar a falar menos e agir mais em relação ao que acontece no entorno de seu futebol —não esqueçamos os graves problemas do país em relação ao racismo, potencializados nos casos contra Vinicius Jr.

Também é bom lembrar que a Espanha já chegou ao Mundial com uma crise entre parte do elenco e o técnico. Muitas pediram a troca do treinador, mas Rubiales peitou as jogadoras e manteve o míster. Com esse contexto, será que Hermoso teria força para confrontar o dirigente?

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