Por ALBERTO MURRAY NETO

Tenho escrito ao longo da vida muita coisa sobre o esporte, ética e moral. Essa tem sido, em síntese, a minha mola mestra. Na minha vida atlética, como esportista, como membro da assembleia geral do COB por doze anos, Árbitro da Corte Arbitral do Esporte por um mandato e em todas as demais atividades que tenho exercido no esporte, a retidão de princípios tem sido a minha pauta. Foi a escola que tive desde o início. Também tenho escrito, ao longo de pelo menos dez anos, que o esporte é o segmento social capaz de realizar proezas que nenhuma outra atividade sequer chega perto de conseguir.  Construi meu caráter, minha formação, praticando esporte e convivendo com culturas distintas e distantes, pessoas que vêm de outras origens, com pensamentos contrários. Concluí que nada pode ser mais democrático do que o convívio saudável com outros atletas. No esporte fiz – e sigo fazendo – amizades caras e diletas.

Aprendi que o esporte é a união dos povos por meio da saudável prática do exercício físico, possível de promover o entendimento. Nos campos de competição, são todos iguais, não importa a cor, religião, origem ou pensamento político. Vence, honestamente, aquele, que estiver melhor preparado. A prática da atividade física é a herança genética do ser humano que, nos primórdios, utilizava a força como meio de vida, de luta corporal, em busca de alimento e proteção. Quando o homem e a mulher evoluiram e já não mais necessitavam do uso de sua força para manter a própria vida, manteve, como herança de seu passado, a necessidade de seguir peleando e, assim, nasceu o gosto pela atividade física, pela prática do desporto.

Também muito já escrevi sobre a importância do atleta olímpico para a sociedade. O atleta olímpico atinge o ápice de sua vida atlética ao conquistar, com denodo, a honra de participar do mais alto certame. Tenho um texto específico que escrevi sobre “O Atleta Olímpico, Sua Função Social e Suas Emoções Olímpicas”, publicado no Brasil e no exterior e disponível nas mídias sociais. Sei da relevância do esporte e do que a prática da Educação Física, como prioridade de governo e política de Estado podem proporcionar em melhorias para o povo, desde a base, na infância, até a idade adulta e o alto rendimento. Medalhas Olímpicas surgirão naturalmente quando o esporte for tratado pelo Estado e pela sociedade como questão de educação e saúde pública, principalmente no Brasil, com população tão vasta e diversificada, de homens e mulheres de origens diferentes e cuja miscigenação fez desta uma nação com potencial humano superior. Basta a eles dar oportunidades.

Com o inexorável e, ao mesmo tempo, profissionalismo exacerbado, os malefícios do doping aproximaram-se do esporte. O mal do doping é tão terrível quando a droga. O comércio do doping deve ser combatido como tráfico de drogas. O esporte é uma propaganda de vida justa e saudável e não um meio de morte. Doping é inaceitável.

Durante anos, em favor da ética no esporte, não hesitei em por em ação uma luta sem quartel. Comprei brigas que não eram minhas. Sofri consequências, mas em nenhum instante sequer desviei-me do meu caminho e dos meus princípios. Estou satisfeito com o que conquistei. Nunca apequenei-me. Sempre houve muita gente boa com quem combati ao lado. Acredito que, finalmente, o esporte poderá viver sua nova era. A comunidade está atenta ao que ocorreu e não deixará que se recue. Atletas, gestores e a sociedade poderão – e deverão – manifestar-se. Isso é salutar.

Não podemos perder essa oportunidade.  O momento requer ideias novas, com a expressão do livre pensamento. Uma nova ordem esportiva pode ser redigida. É o momento de haver debates francos, com serenidade, união e equilíbrio, mas, sobretudo, ética. O Brasil pode vir a ser uma grande nação esportiva.

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