Orlando Rollo e Robinho

Da FOLHA

Por MANUELA CANTUÁRIA

Categorizá-los como vitória do feminismo mais atrapalha do que ajuda

De uns anos para cá, um subgênero cinematográfico conhecido como estupro e vingança vem ganhando força. Vitória do feminismo? Mais ou menos. Talvez mais para menos.

Se existe algo mais revoltante do que esse crime hediondo certamente é a impunidade que o acompanha. A taxa de condenação por estupro no Brasil gira em torno de 1%. Na semana passada, as gravações que condenaram Robinho por estupro vieram a público. O deboche do jogador, somado ao fato de que ele continua em liberdade, nos ajuda a entender o fenômeno de protagonistas vingativas e furiosas que ganham as telas.

Sendo a cultura do estupro legitimada pela conivência das autoridades, curtir essa catarse com um balde de pipoca, a princípio não parece uma má ideia. O problema é que, muitas vezes, esses filmes não conseguem romper com esse pacto macabro —quando as cenas de estupro são fetichizadas ou a violência contra o estuprador leva o público a achar que ele é a vítima, por exemplo.

Então quer dizer que, quando uma mulher é vítima de estupro, a vida dela vai se resumir àquilo dali pra frente? Ela precisa abrir mão de tudo, sua rotina, seu trabalho, suas relações pessoais, sua ética, sua identidade, sua sensibilidade, para superar a violência que sofreu?

O clássico final hollywoodiano em que o herói enfia uma espada no coração do antagonista será o suficiente para essa mulher se curar do trauma? Diante da ineficácia do sistema penal, a solução é fazer justiça com as próprias mãos e chamar isso de empoderamento? Uma jornada em que uma mulher não prioriza a si mesma e está disposta a se autodestruir para levar um homem junto oferece algum tipo de alento ao público feminino?

Ainda que esses filmes funcionem como entretenimento, categorizá-los como uma vitória do feminismo mais atrapalha do que ajuda. É um jogo em que todo mundo sai perdendo. Nesse sentido, essas personagens ficcionais passam longe de ser um bom exemplo.

Encerro essa reflexão com o que considero um bom exemplo na vida real. A condenação e prisão por estupro de outro jogador de futebol brasileiro, Daniel Alves, cujo impacto social é imprescindível para diminuir as taxas de um crime cometido com a certeza da impunidade.

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