Da FOLHA

Por TOSTÃO

Há uma cultura racista no país, explícita ou dissimulada, que se reflete também no futebol

Muitas pessoas, conformistas e/ou alienadas, acham que existem poucos negros na maioria das atividades profissionais no Brasil porque eles vêm de famílias pobres e não tiveram condições de estudar. Isso existe, mas não é a única causa. Há uma cultura racista no país, explícita ou dissimulada, que não percebem ou fingem não ver.

No passado, as posturas racistas eram mais frequentes e mais toleradas, especialmente em estádios. Os jogadores negros, como Pelé, eram chamados de macacos, como ainda acontece hoje.

No meio de uma multidão, os racistas se sentem mais protegidos e corajosos para fazer o que querem, como se eles não fossem responsáveis por seus atos, e sim o grupo. Durante as partidas, vários negros eram ofendidos pelos marcadores. Até hoje, algumas pessoas, quando querem elogiar um negro, dizem que eles têm alma branca. Um horror.

No futebol, com tantos craques negros —a miscigenação é uma das razões da habilidade e da criatividade brasileira—, atualmente existe apenas um técnico negro na Série A do Brasileiro, Roger Machado, do Bahia. Muitos dirigentes acham que os negros não têm preparo intelectual para comandar um grupo.

Andrade, ex-jogador do Flamengo, se tornou auxiliar-técnico. Houve uma vaga, ele virou interino e foi campeão brasileiro. Apesar do prestígio do título, Andrade, pouco tempo depois, foi dispensado e só foi convidado para treinar times pequenos. Desistiu da carreira.

Evaldo, centroavante do Cruzeiro nos anos 1960, era muito lúcido, inteligente, esclarecido e com alto conhecimento das coisas. Ele se preparou para ser treinador e chegou a dirigir as categorias de base do clube. Porém, sempre que aparecia uma vaga de técnico da equipe principal, ele era preterido por um branco, mesmo se não tivesse qualidade para o cargo. Evaldo desistiu.

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