maracana

Da FOLHA

Por MARILIZ PEREIRA JORGE

Não há uma única vez em que eu chegue ao Maracanã e não sinta uma emoção enorme. Tinha oito anos a primeira vez em que fui ao estádio, levada pelo meu pai, que falava com orgulho sobre aquele que já foi o maior do mundo.

Triste ler que o estádio está abandonado, com mato crescendo, vidros quebrados, portas que não fecham, camarotes saqueados, espaços vazios no lugar de 7.000 cadeiras, segundo informações do jornal “O Globo”.

Por falta de luz, o gramado deixou de ser irrigado e piora a cada dia, castigado pelo calor que assola o Rio. No templo do futebol, jaz apenas uma grande várzea, o que provoca enorme comoção. O Maracanã é e sempre será o estádio de futebol do coração dos brasileiros, mesmo daqueles que nunca estiveram lá.

Não vou entrar no mérito da briga entre o governo estadual, a concessionária Maracanã S.A. (Odebrecht e AEG) e o comitê organizador da Rio-2016, que protagonizam um jogo de empurra-empurra sobre a responsabilidade do estádio.

A questão é outra. Verdade seja dita, o Maracanã, por mais que tenhamos um amor enorme por ele, é um estádio ruim, apesar de sua arquitetura fabulosa. Falo sobre conforto e modernidade.

O seu desenho original merece toda honraria e felizmente foi preservado para guardar a memória de décadas de futebol. Como sua estrutura não foi afetada pela reforma que durou quase três anos e consumiu R$ 1,3 bilhão de dinheiro público, sempre me intrigou que o Maracanã tenha se tornado um estádio razoável apenas.

Lembro da minha primeira experiência depois da tal reforma. Impossível não se encher de expectativas, mas não consegui entender e muito menos enxergar onde tinha ido parar aquela quantidade escandalosa de dinheiro usada nas melhorias. Nas cadeiras? No telão? Na iluminação? No gramado? Verdade, tudo parecia melhor -e apenas melhor. Mas e o restante?

Não há sinais de que muito dinheiro tenha sido usado nos espaçosos corredores, nas áreas de alimentação, que são sempre insuficientes, nos banheiros, reformados com material que parecia estar lá antes mesmo das obras.

Os banheiros femininos têm válvulas de descarga antigas, azulejos que parecem ter sido reaproveitados, portas de péssima qualidade e iluminação impossível de acreditar que seja nova. Nos camarotes, o material usado é mais moderninho, mas é o máximo de inovação que será visto por lá.

Saí com a impressão de uma obra feita às pressas com o dinheiro que dava. Ou que o grosso do investimento tenha priorizado o que não é visível ou não pode ser vivenciado pelo visitante. Talvez haja vestiários com o tal padrão Fifa, gramado com tecnologia caríssima, telões de muitos milhões de dólares, gueixas japonesas, lago com carpas.

Para efeito de comparação, a Friends Arena, em Estocolmo, inaugurada em 2012, custou R$ 1,1 bilhão, mas vejam só, é referencia em modernidade por sua cobertura retrátil, que abre e fecha. Os suecos conseguiram construir um estádio novinho, com teto retrátil, com o mesmo dinheiro que nós reformamos um que já existia, que nada tem de moderno, onde volta e meia os banheiros inundam e ficam sem luz. Por que mesmo deveríamos nos surpreender que os envolvidos estejam se lixando em relação ao destino do Maracanã ou que muitos deles estejam presos?

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