Roberto Andrade, ex-diretor de futebol do delegado Mario Gobbi, ex-vice-presidente na gestão Andres Sanches, passou, nos últimos anos, por um processo de mudança de biografia gradativa, para que sua candidatura a presidência do Corinthians pudesse ser viabilizada.
Era necessário comprovar – mesmo que sem verdade – que o atual dirigente seria um grande empresário do ramo de concessionárias de veículos, afastando, por consequência, as incomodas desconfianças que pairam sobre os que exercem cargos não remunerados em clubes, sem justificativa plausível da origem da própria renda.
Um prato cheio para a a locupletação.
Os que conhecem Andrade, no Parque São Jorge, sabem que sua real colocação profissional é a de Gerente de Vendas de uma uma concessionária da Chevrolet, a Nova Veículos, localizada na Av. Celso Garcia nº 5000, que, por sinal, é responsável por seu apelido no clube, “Roberto da Nova”.
Um bom emprego, mas insuficiente para dar sustentação – seja financeira ou de conhecimentos administrativos – para quem busca exercer cargo tão importante quanto o de Presidente do Corinthians.
Não é a primeira vez que tenta-se transformar um nome do clube em “grande empresário”.
Basta lembrar o caso do ex-presidente Andres Sanches, que, mesmo tendo seu nome como proprietário de 43 empresas, descobriu-se, depois, que 41 delas sequer existiam – apenas no papel – e o restante, pertencente a seus familiares, utilizava-o apenas como manobra para burlar o fisco.
Caso muito semelhante ao que acontece com Roberto Andrade em sua relação com a NOVA DISTRIBUIDORA DE VEÍCULOS LTDA. e que vem sendo, espertamente utilizado pelo próprio, em boatos dentro do clube, para comprovar sua falsa situação de “empresário” de sucesso.
O VERDADEIRO PROPRIETÁRIO DA NOVA – CHEVROLET
MAURO ANTONIO SALERNO é o verdadeiro proprietário da NOVA DISTRIBUIDORA DE VEÍCULOS LTDA, uma concessionária do grupo Chevrolet, do qual o atual Diretor de Futebol do Corinthians, Roberto Andrade, é Gerente de Vendas.
A empresa foi constituída como SEL Veículos e Peças, em 20 de setembro de 1993, com participação igualitária de 50% entre os sócios Mauro Antonio Salerno e Antonio Miguel Salerno.
No dia 02 de março de 1994, teve seu nome empresarial alterado para o atual “Nova Distribuidora de Veículos Ltda.”
Cinco anos após, em 1999, uma briga de família ocasionou o rompimento entre os sócios, porém, por se tratar de uma empresa com denominação “LTDA – Limitada”, permaneceu a necessidade de dois proprietários responderem pela concessionária.
Ampliou-se, então, as cotas de Mauro Antonio Salerno para 95% do montante, ficando, apenas para efeitos fiscais, 5% com Antonio Miguel Salerno.
Em 08/04/2004, Antonio Salerno decidiu retirar seu nome totalmente da empresa, ficando, então, Mauro Salermo com a integralidade dos 100%.
A Lei permite que uma empresa “LTDA” permaneça sem outro sócio temporariamente por seis meses, fator que obrigou, quase no final do prazo, Mauro Antonio Salerno a escolher entre seus funcionários uma espécie de “laranja”, sem função administrativa, apenas para compor o contrato.
Roberto Andrade, Gerente de Vendas, foi o escolhido para a função.
ROBERTO ANDRADE – O “EMPRESÁRIO” DOS 2%
No dia 04 de outubro de 2004, Roberto Andrade foi admitido no contrato social da “NOVA” com irrisórios 2% de participação, permanecendo Mauro Salermo, o verdadeiro proprietário, com 98%, suficientes para enganar a fiscalização governamental.
Roberto “da Nova”, como é tratado no Corinthians, passou, num passe de mágica, a se vender dentro do clube como dono da concessionária, quando, na verdade, mantinha mesmo cargo, funções e salários de seu verdadeiro ofício, o de Gerente de Vendas da empresa.
AS PENHORAS DA EMPRESA
No dia 18 de julho de 2007, por ordem do Juiz de Direito da 65ª Vara do Trabalho, os bens da NOVA – CHEVROLET foram penhorados em favor de Walter da Veiga Facchini, após considerar fraudulenta a redução de cotas do ex-sócio Antonio Salerno, que devia obrigações trabalhistas, por outra empresa, para o referido credor.
Após a quitação da dívida, os bens foram novamente liberados.
Em 27 de maio de 2011, os problemas financeiros da “Nova” se avolumavam, e a FAZENDA DO ESTADO DE SÃO PAULO ingressou com Ação de Execução Fiscal no valor de R$ 700 mil.
Na data de 04 de outubro de 2012, decidiu-se por nova penhora de bens.
No mesmo período, a FAZENDA ingressou como novo pedido de EXECUÇÃO FISCAL, no valor de R$ 300 mil, que também resultou em penhora.
Porém, em manobra jurídica, no dia 23/08/2013, a “Nova” conseguiu suspender a Ação pelo prazo de um ano.
Mais uma penhora de bens, por dívidas fiscais de R$ 600 mil, foi também solicitada pela FAZENDA, no dia 20/01/2012, complicando ainda mais a saúde financeira da Concessionária.
GOLPE DO GATTOPARDO: “MUDAR PARA PERMANECER COMO ESTÁ”
Adaptado para o cinema, com maestria, pelo italiano Luchino Visconti, a obra prima “Il Gattoprado” tratava de um período político em que predominava o “gattopardismo”, que tinha como preceito principal “mudar para que as coisas permaneçam como estão.”
Certamente preocupada com sua situação administrativa e financeira, a NOVA – CHEVROLET decidiu realizar uma manobra que consistia em retirar do contrato social os nomes visados por processos, colocando em seus lugares duas empresas.
Em 28/04/2011, no auge dos problemas com o fisco, retiraram-se “oficialmente’ da sociedade os senhores Mauro Antonio Salerno e Roberto Andrade.
Na mesma data, foram admitidas as empresas MBS PARTICIPAÇÕES LTDA., com 98% do capital, e CURVEX PARTICIPAÇÕES LTDA., herdando os 2% restantes.
No dia 22 de outubro de 2013, redistribuiu-se as cotas, reduzindo a participação da MBS para 90%, ampliando a CURVEX para 10%.
Porém, ao observarmos a constituição de ambas as empresas, encontramos o “pulo do gato”.
Ou do “Gattopardo”.
Tanto MBS quanto CURVEX foram constituídas no mesmo dia, em 01/11/2010, com a única finalidade de se tornarem sócias da “NOVA – CHEVROLET”.
No contrato da MBS, que hoje é detentora de 90% da Concessionária, constam Mauro Salermo (verdadeiro dono da NOVA), com 99,9 % e sua parente Beatriz Genta Salerno, com 0,01%, mantendo-se a obrigatoriedade de dois sócios para empresa “LTDA”.
Na constituição da CURVEX, que possui 10% da Concessionária, está novamente o nome de Mauro Salerno, desta vez com Roberto Andrade, seu funcionário fiel, assinando como sócio.
Ou seja, além da obviedade da operação, Roberto Andrade, no papel, ampliou sua “participação” de 2% para 10%, suficiente para sugestionar em sua campanha política às eleições do Corinthians que seria proprietário de uma empresa da qual figura apenas como funcionário.
Tudo indica, em combinação com Mauro Salerno, que não se recusaria a ajudar, politicamente, quem lhe emprestou o nome em momento de necessidade.