Por RODRIGO LEONTINO
Boa tarde Paulinho,
Meu nome é Rodrigo, sou consultor de empresas em Londrina-PR, grande fã de futebol e esportes em geral e admirador a muito tempo do seu Blog.
Concordando ou não com suas opiniões, me agrada muito a linha que você segue ao realizar seu trabalho.
O motivo que me faz te escrever este email é a indignação que eu senti a assistir uma reportagem hoje no programa Tem Esportes.
A TV Tem é a afiliada da Rede Globo no centro-oeste paulista, antes da exibição do Globo Esporte normal para toda a rede a afiliada exibe um boletim esportivo falando essencialmente sobre os times de futebol da região.
Como passei duas semanas de férias na casa dos meus pais em Botucatu, pude acompanhar o programa.
O Tem Esportes segue aquela linha normal de “oba oba” dos programas esportivos da Globo, mas hoje achei que passaram do ponto numa reportagem.
Ao falar sobre a estreia do Linense na Copa São Paulo de Futebol Junior, a chamada da reportagem comentava que os jogadores “ainda tem muito a aprender, como, por exemplo, dar entrevistas”.
Imaginei que a reportagem falaria sobre a timidez dos garotos em falar para as câmeras, inexperientes que são neste quesito.
Qual não foi minha surpresa quando o repórter entrevistou o atacante da equipe, tido como seu principal destaque, que pareceu até bem articulado para a sua idade.
Após uma declaração absolutamente normal do jogador entrou a voz do narrador proclamando que o rapaz precisava aprender como dar entrevistas, “porque sinceridade demais atrapalha”.
Depois desta fala, foram exibidas duas perguntas feitas ao jovem jogador.
A primeira era se o elenco atual do Linense é o melhor em que ele já jogou na Copa São Paulo.
O rapaz respondeu: “Na verdade, acho que o elenco do ano passado era um pouco melhor”.
A segunda pergunta era se seria importante a torcida encher o estádio para apoiar o time.
A resposta do rapaz foi algo como “independentemente de torcida, a gente tem que entrar lá e jogar do melhor jeito. A torcida não influencia nosso desempenho dentro de campo”.
Achei as respostas do garoto geniais, demonstrando um jogador de personalidade.
Mas depois de cada resposta dele entrava a voz do narrador inconformado “Como assim rapaz? Não pode ser sincero deste jeito não, tá maluco!”.
E encerrava com um “Ele é novo ainda, tem tempo para aprender”.
Sempre admirei jogadores que fogem do lugar comum nas entrevistas e têm seu próprio modo de pensar, mas parece que estamos condenados a não ver mais jogadores do tipo no mundo do futebol, sendo que os que restam terão que se adequar aos padrões estabelecidos por aqueles que exercem seu poderio econômico sobre a modalidade.
Hoje em dia este tipo de pensamento é tratado pela grande mídia como “defeito que tem que ser corrigido”.
Sentiremos cada vez mais saudades de Sócrates, Renato Gaúcho, Romário, Edmundo, Vampeta.
Jogadores que pensavam por conta própria e não eram fantoches na mão de um sistema.
Era isto que eu gostaria de compartilhar com você Paulinho, um abraço e parabéns pelo seu trabalho.
Abraços