Maradona e Dunga

Por SÓCRATES

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Diego Maradona foi apresentado oficialmente como novo técnico da seleção argentina. De cara, já soltou uma bomba que certamente atingiu o nosso treinador. Disse em alto e bom som que em seu time não haverá jogo duro ou violento, como na “era Dunga”, e sim muita técnica e criatividade. Que bom seria se ouvíssemos isso da boca do nosso comandante! Esta, sim, seria uma postura compatível com a cultura do futebol brasileiro, ao contrário do argentino, que sempre foi muito mais briguento e eventualmente maldoso em suas atitudes.

Talvez Maradona seja um dos poucos exemplos de atleta do país vizinho em que a técnica se sobrepunha ao uso da força e, por isso, ele pleiteia que seus jogadores o acompanhem nessa filosofia. Difícil será encontrar onze que consigam segui-lo em suas pretensões, ainda que tenha em mãos uma nova geração promissora e, em campo, já integrado e experiente, o melhor do mundo: Messi.

Dunga, por outro lado, limitou-se a dizer que possuía o mesmo número de títulos do argentino, como se isso fosse parâmetro para as comparações que inevitavelmente todos estão fazendo. Como se o título mundial de cada um fosse um bem particular e estivesse acima de quaisquer outros fatores. Como o talento para jogar bola, por exemplo. Esquece-se de que tudo isso é irrelevante nesta nova condição em que os ex-jogadores se encontram. De nada serve aquilo que foram como atletas para a nova função, a não ser o conhecimento sobre o assunto. Isso, se foram suficientemente inteligentes para aprender alguma coisa. O que, aparentemente, não é o caso. Explico por quê.

Ainda que com posturas absolutamente distintas – uma mais conservadora e outra mais solta, livre e eventualmente inconseqüente –, não percebo nas declarações dos dois técnicos algo concreto ou uma posição clara sobre o futebol que buscam para suas equipes. O que dizem são frases abstratas que, em vez de dirimir dúvidas, confundem ainda mais o interlocutor mais atento.

Quando ouvimos o técnico do São Paulo, Muricy Ramalho, falando de suas táticas ou estratégias, entendemos exatamente o que ele quer dizer, ainda que eventualmente discordemos na essência. Ou o Luxemburgo, que, mesmo tentando florear demais o seu parco vocabulário, oferece a nós os elementos para entendê-lo. Não é o caso dos atuais treinadores das duas principais seleções da América. Com a agravante de que o brasileiro está no cargo há bastante tempo, o suficiente para se fazer entender, se isso estivesse ao seu alcance. Maradona, por sua vez, chega agora e todas as atenções estão voltadas para cada um de seus passos. À espera de um deslize ou de uma revolução nos costumes desse esporte que há muito necessita de um chacoalho bem dado.

Esperamos que aconteça, pois fatalmente produziria uma onda que atravessaria a fronteira e atingiria o futebol brasileiro. Este, sim, com reais condições de resgatar a arte e o talento dos grandes craques que se encontram meio que escondidos em algum recanto distante. Não é tão inverossímil como possa parecer, já que da cabeça de Diego aparentemente tudo se pode esperar. Principalmente quanto à emoção e ao despojamento. Isso sem contar a sua postura política, liberta e autêntica, muito diferente do que temos por aqui.

Incoerências

Por falar em Luxemburgo, o técnico do Palmeiras deu um tiro no pé. Depois de publicamente dar uma dura em seu capitão, o grande Marcos, por ter dito a verdade (que o time amarelou, ou se acomodou, contra o Fluminense), veio, inconseqüentemente, compará-lo ao ídolo e também capitão de seu maior rival no campeonato. Disse, com todas as letras, que o exemplo do goleiro do São Paulo, Rogério, que foi a Ipatinga acompanhar os companheiros pagando do próprio bolso (o que provavelmente não é verdadeiro) o bilhete aéreo, seria o ideal de comportamento para um líder de equipe. Com isso, Luxemburgo desautorizou e desvalorizou as atitudes de seu principal jogador.

Para quem, como ele afirmou, estava preocupado em manter a unidade coletiva, criticar o capitão e jogador mais experiente da equipe soa como uma grande bobagem, porque – aí sim – joga por terra toda e qualquer forma de espírito comunitário. E mais: colocando-se dessa forma, o técnico está, na verdade, puxando para si os holofotes, ainda que ao custo de perder o controle do leme de sua nau. Assim, Luxemburgo jogou por terra uma importante ferramenta na luta pelo título do Campeonato Brasileiro deste ano. O que, convenhamos, é muito pouco inteligente ou, no mínimo, negligente. Ou, talvez, puro amadorismo de quem pouco enxerga além do próprio “eu”.

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