EDITORIAL da FOLHA
Casos são símbolos da violência policial e do descaso com direitos humanos
Este julho de 2023 é uma efeméride que marca dois episódios sangrentos que mancham a história do país: o desparecimento e morte de Amarildo de Souza, há 10 anos, e a chacina da Candelária, há 30, ambos no Rio de Janeiro (RJ). Os dois casos evidenciam a persistência da barbárie policial brasileira.
Nos últimos três anos, as forças de segurança pública foram responsáveis por um terço das mortes violentas na região metropolitana da capital fluminense.
Símbolo nacional de abuso da força policial, o caso Amarildo não deve ser esquecido. No dia 14 de julho de 2013, um domingo, o ajudante de pedreiro foi detido por agentes da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), na favela da Rocinha.
Seu corpo nunca foi encontrado. A família ainda espera por indenização, apesar de já ter sido concedida pela Justiça no ano passado. De doze policiais acusados em 2016, oito acabaram condenados três anos depois; seis deles ainda seguem trabalhando na corporação.
Desaparecimentos são mais comuns do que se imagina. Uma média de 183 pessoas somem por dia no Brasil, segundo o Mapa dos Desaparecidos do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.
Entre 2019 e 2021, houve 112.246 ocorrências do tipo no país, com a predominância entre as vítimas de homens (62,8%) e negros (54,3%).
A faixa etária com mais desparecidos é entre 12 e 17 anos (29,3%), grande parte pela falência de políticas públicas intersetoriais para essa população. A chacina da Candelária é o exemplo mais nefasto desse abandono.
No dia 23 de julho de 1993, oito crianças e adolescentes em situação de rua, entre 11 e 19 anos, foram assassinados por PMs à paisana aos pés da Igreja da Candelária, no centro do Rio. Quatro policiais foram condenados, cumpriram pena e já saíram da prisão; outros três foram absolvidos.
Desde então, violações aos direitos humanos persistem. Dos cerca de 70 jovens e crianças em situação de rua da região da Candelária, 39 morreram de forma violenta nos anos seguintes. Desde janeiro, oito crianças foram mortas por armas de fogo na cidade do Rio de Janeiro, segundo levantamento do Instituto Rio de Paz.
Investir em redes integradas de busca de desaparecidos e em investigação e punição no rigor da lei em casos de abuso da força policial é essencial. Reverter os índices, típicos de zonas de guerra, é um imperativo civilizatório.