É suspeito, mas previsível, o ‘encanto’ da diretoria do Corinthians com empresas operadoras de criptomoedas, apesar deste tipo de negócio contrariar o slogan do grupo gestor, que contém a palavra ‘transparência’.

Hoje mesmo a FOLHA, na coluna ‘Painel S/A’, demonstra a alegria dos advogados com o assunto, ao publicar texto com auto-explicativo título: “Criptomoeda impulsiona demanda na área criminal de escritórios de advocacia”.

Tendo o departamento de compliance, em vez de investigador, na condição de submisso parceiro, quase chanceladores extra-oficiais de imoralidades, os cartolas alvinegros trabalham no ambiente digital, mas não prestam contas.

Recentemente, rompeu-se, meses antes do término do acordo, parceria com a ‘Mercado Bitcoin’.

Pouco se sabe do saldo final desta aventura.

Por que o clube não cobrou multa pela rescisão?

Durante a vigência do contrato, falou-se que o Corinthians teria direito a um número ‘x’ de criptomoedas, oriundos do percentual de movimentação financeira dos torcedores que aderissem ao sistema.

No balanço anual, publicado no início de 2022, e no balancete do primeiro trimestre, não há informação sobre a existência destes ativos.

Em pouco mais de um mês, o Bitcoin perdeu quase 60% do valor de mercado.

Que índice a diretoria do clube, em prestando contas, levaria em consideração para inserção na contabilidade?

Como saber se o valor lançado seria fiel ao vigente em específica data?

Estas são apenas algumas, entre tantas razões, que transformam a operação de criptomoedas extremamente atrativas para a prática criminosa.

O presidente do Corinthians, seu pai e irmão, todos cartolas, em tese, não remunerados do clube, estão com as contas e bens bloqueados pela justiça há mais de uma década.

Os patrimônios que ostentam, se registrados em seus nomes, circulam na condição de fieis depositários, ou seja, sem valor comercial para os próprios – a espera de arremates em leilões.

Como essa gente, nesse contexto, movimentaria dinheiro?

O Blog do Paulinho comprovou, tempos atrás, que a família possuía conta em Paraíso Fiscal, mas, para ‘jogo rápido’, no Brasil, as criptomoedas seriam muito atrativas, além de não deixarem rastro para envio ao Exterior.

Condição semelhante vive o Corinthians.

Todas as contas e bens do clube estão, quando não penhorados, bloqueados.

Existem comprovações diversas, facilmente checáveis no sistema de Justiça, de que, invariavelmente, os saldos do Timão se aproximam se Zero.

Como explicar a movimentação financeira necessária para operação do clube e, principalmente, pagamento milionário de salários ligados ao futebol?

Das duas, talvez uma: contas de terceiros sendo utilizadas, sem conhecimento do Conselho, para viabilizar o vai e vem de dinheiro, ou os parceiros de criptomoedas estariam ajudando – porque estes ativos, se mantidos fora de corretoras, são irrastreáveis?

Indício mais recente da proximidade do Corinthians, e de seus cartolas, com esse tipo de ‘organização’ se deu no processo movido contra a SPR (ou em combinação com a empresa, talvez), quando a carta de crédito utilizada pelo clube, no valor de R$ 15,6 milhões, foi adquirida fora do sistema bancário tradicional, através de operadores do mercado cripto, quase todos investigados por esse tipo de operação.

Se o clube, eventualmente, se tornar devedor de seus avalistas, com qual cotação a pendência seria quitada?

Todos os mistérios, seja o da ausência de prestação de contas da movimentação de criptomoedas do Corinthians, quanto a da falta de informação de como se sustentam seus diretores, poderiam ser, no mínimo, questionados em Parque São Jorge, embora o melhor caminho, talvez, fosse o da investigação formal pelos órgãos competentes.

O Conselho Deliberativo do Corinthians possui diversos desembargadores, juízes, promotores, delegados, etc, todos habilitados e obrigados, pelas funções, a não prevaricarem diante de possível ilícito – ainda que apenas em suspeita.

Mas, talvez, para que alguns se debrucem sobre assunto, seja necessário o término do período de festividades, viagens, ingressos grátis e demais alegrias.

Facebook Comments