Em maio de 2018, o Blog do Paulinho revelou que, àquela época “nos próximos dias”, seria lançado o livro “Cartão Vermelho”, escrito pelo jornalista Ken Bensinger, do BuzzFeed, trazendo detalhes das delações de J.Hávilla e da condenação de José Maria Marin, ex-presidente da CBF.

A obra mostraria, também, que os donos de diversos intermediários de mídia, entre as quais a argentina “Torneos”, apontaram, em delação, que a Rede Globo, por intermédio do executivo Marcelo Campos Pinto – que a emissora disse, em Jornal Nacional, não conseguir localizar para responder a questionamentos – teria pagado propinas diversas para obter os direitos de transmissão dos principais campeonatos do planeta.

Nesse contexto, estranhamos o ‘interesse” da emissora em adquirir os direitos da publicação, que seria lançada pelo selo “Globo Livros”:

“(…) é estranho que a obra do jornalista seja lançada, justamente, pelo selo “Globo Livros”.

“Das duas uma: a editora, de propriedade da organizações “Globo”, possui independência pouco vista noutras empresas da “constelação” ou se faz necessário, antes de ler a versão brasileira, adquirir o produto original, em inglês, para verificação de possíveis “erros de tradução””

Desde então, passaram-se meses e, entre diversos adiamentos, o livro nunca chegou às livrarias nacionais.

A FOLHA de hoje, em matéria assinada por Daniele Brant e Paulo Passos, traz detalhes sobre o embargo global à “Red Card: How the U.S. Blew the Whistle on the World’s Biggest Sports Scandal”, em tradução literal ao português: “Cartão Vermelho: Como os EUA Revelaram o maior Escândalo Esportivo Mundial”.

Entrevistado, Ken Bensinger desabafou:

“É muito estranho, porque eles compraram, me pagaram, uma pessoa da Globo mostrou a meu agente o manuscrito em português, e era para ser publicado em maio, em junho, em julho, e nunca foi publicado”

“Recentemente meu agente ligou para um responsável da Globo Livros, e eles disseram que meu livro menciona a Globo, mas não muito, só um pouco no final. Mas eles disseram que não querem publicar até o caso criminal ser encerrado”

Existe, porém, uma versão em português, lançada em Portugal pela Editora Presença, que pode explicar o receio da Globo em ver a obra circulando no Brasil

Segundo a FOLHA:

“Dona de direitos de TV de torneios da Fifa, a Globo é citada quatro vezes no livro. Em duas, o grupo aparece quando J.Hawilla é perfilado”

“O empresário —morto em 2018— foi delator na investigação das autoridades americanas. Ele admitiu ter pago propina para dirigentes na compra de direitos de transmissão de torneios da Fifa e da CBF”

“Ao contar a história de Hawilla, o livro cita que ele trabalhou na Globo, primeiro como repórter e depois como chefe do departamento de Esporte da emissora, nas décadas de 1970 e 1980”

“Em outro trecho, Bensinger informa o quanto a Globo pagou à Fifa pelos direitos de TV das Copas do Mundo de 2010 e 2014. Segundo o autor, a emissora desembolsou 340 milhões de euros (aproximadamente R$ 1,4 bilhão)”

“Na quarta referência à emissora, a obra reproduz o depoimento de Alejandro Buzarco, ex-homem forte da companhia de marketing argentina Torneos y Competencias, na Justiça dos Estados Unidos”

“Em novembro de 2017, ele afirmou que a Globo e o grupo mexicano Televisa pagaram propina a um dirigente da Fifa durante negociação para compra de direitos de transmissão da Copa do Mundo”

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