Por ROQUE CITADINI
A CBF (Confederação Brasileira de Futebol) anunciou um Comitê de Reformas do Futebol Brasileiro. Com 17 membros, alguns são dirigentes da própria atual CBF, outros de federações. Há também alguns ex-jogadores e advogados da área.
A grave crise que vive nosso futebol, escancarada na última Copa, deveria ser motivo para uma mudança profunda.
Mesmo com alguns (poucos) bem intencionados, o problema é que a CBF faz tudo para manter as coisas como estão. Por lá uma ou outra ideia inovadora poderá aparecer, mas desde que, na essência, nada mude.
É a ideia de gattopardismo puro. Mudar, para continuar tudo igual.
A CBF nunca foi uma instituição modernizadora no futebol.
Nos últimos 60 anos, apenas em duas oportunidades a Confederação contribuiu para medidas renovadoras em nossa futebol.
Um deles foi em 1958, quando terceirizou para um grupo de São Paulo (dirigido por Paulo Machado de Carvalho) a organização a preparação para a Copa. Uma Comissão técnica foi feita e planejou de forma adequada a seleção de 1958. Organizou, trabalhou e venceu sendo o esquema repetido em 1962 e abandonado em 1966.
O outro momento renovador foi quando da implantação dos pontos corridos no Campeonato Nacional. Seja lá qual interesse tenha movido a instituição, a verdade é que a nova forma de disputa foi implantada e serve bem ao nosso futebol.
Hoje, a luta da CBF é sobreviver como está ou com algumas pequenas mudanças. Veja a questão das federações estaduais. São um peso para os clubes e não são nem reconhecidas pela Fifa. Mas são importantes no esquema eleitoral atual. Deveriam parar de “morder” a renda dos clubes e tornarem-se mero escritórios da CBF, sem qualquer direito a voto.
O caso do Corinthians é emblemático. Construiu uma bela Arena para abrir a Copa do Mundo e, em todos os jogos, toma uma mordida (5 ou 7%) do total da renda. A Federação (que não deu um saco de cimento para a obra) recolhe, na maior tranquilidade, uma bolada em cada partida.
Teria a CBF coragem para mudar isso? Não. As federações estaduais são fundamentais para manter o estado de atraso no futebol.
Qualquer boa mudança no futebol só vem por dois caminhos: ou pelo governo ou pelos clubes.
Nos clubes, mesmo com todos os problemas que encontramos, há espaço para a busca de novas formas de organização e atuação. Modernizam seus estatutos, criam formas de ação e têm sempre uma boa parcela dos sócios que atuam fiscalizando as direções. É o que vem ocorrendo nas últimas décadas. Por exigência do profissionalismo, muitos clubes avançaram na modernização.
O governo, quando bem intencionado e bem orientado, decreta leis que modernizam nosso futebol. É o que vem ocorrendo nas últimas décadas.
Esperemos que o governo, em algum momento, estabeleça que somente os clubes votem para eleger a CBF, como ocorre em todo o mundo.
Certamente medidas como essa não virá de uma Comissão da CBF.
De lá só virão mudanças que… não mudam.