Desde que emergiu, com a ajuda (e financiamento) do iraniano Kia Joorabchian, da anônima posição de subalterno das categorias de base do Corinthians para a condição de presidente do clube, o cartola Andres Sanches tem se aproveitado bastante das benesses proporcionadas pelo peculiar mundo do futebol.
Num sistema que permite tudo, praticamente sem punição, o alvinegro (que faz de tudo) enriqueceu.
Saiu, sem comprovar como, de uma residência de aluguel na Zona Oeste para um (entre vários) apartamento de luxo no Tatuapé ou, vez por outra, em Miami (onde montou até negócio – gerido pelo filho).
Sua vida, evidentemente, foi facilitada por um perspicaz entendimento sobre suas limitações, além da escolha de aliados “das antigas” (para serviços mais complicados) e novatos (que fechavam os olhos para os desmandos, na ânsia de ascensão ao poder no Parque São Jorge).
Sanches entregou, então, a gestão do Corinthians nas mãos de Luis Paulo Rosenberg, do estádio, nas do presidente Lula, e da imprensa a Oliverio Junior, precisando, apenas, nas entrevistas, passar como se fosse uma espécie de “Vicente Matheus” canastrão, falando errado, com ar de folclórico, porém, sem, obviamente, as qualidades do imitado.
Enganou alguns por certo tempo, e outros, por conveniência (é assim o mundo do futebol), fingiram-se enganados.
Rico, poderoso (no esporte) e sem escrúpulos, o ex-presidente do Corinthians caiu na armadilha da soberba, e decidiu, de maneira equivocada, com ajuda do PT (que precisava de um puxador de votos) ingressar noutro mundo, que não admite amadores, o da política.
“Terei um milhão de votos”, disse Sanches ao lançar-se candidato a Deputado Federal.
E veio a primeira decepção: apesar de eleito, pouco mais de 100 mil pessoas votaram no corinthiano, que tratou de enxergar, pela primeira vez, a realidade.
Antes, porém, acreditando que a prestação de contas políticas (ainda mais em tempos de “Lava-Jato”) funcionaria como no Parque São Jorge (mundo do futebol), em que mandava o diretor financeiro, Raul Corrêa da Silva, mentir e maquiar os balanços, apresentava-os sem documentação comprobatória no Conselho, e, após dois ou três gritos com os que ousavam questioná-lo, conseguia a aprovação, em meio a aplausos da “turma dos ingressos grátis” e a covardia dos omissos, Andres Sanches meteu os pés pelas mãos, utilizou-se da costumeira fajutice, e, sem comprovar receitas e despesas, apresentou-as ao TRE-SP.
Em verdade, cavou a própria cova antes mesmo de saber que iria morrer.
E morreu.
O vexame da reprovação de contas, por unânimes sete a zero (maior que os sete a um da Alemanha no Brasil – que, no mundo do futebol podem ser recuperados), e, principalmente a fundamentação para tal, em acordão arrasador da desembargadora Diva Malerbi (que tratou Sanches, em palavras duras e documentadas, como bandido), colocou fim a uma carreira política, que, desde a posse, durava apenas cinco meses.
Haverão recursos e outras tentativas, óbvias (mas dentro da lei), não de reverter o resultado de condenação (os ilícitos são inquestionáveis), mas de, melancolicamente, estender um mandato moribundo, evitando o vexame da cassação, mas com a certeza da impossibilidade (no mínimo por oito anos) de nova ação política relevante.
O mundo real (em que a política está inserida) retirou Andres Sanches (PT) do pedestal (de papel) conseguido (com safadeza e esperteza) na irrealidade do futebol, um caminho que servirá de destino futuro para o quase ex-deputado tentar, novamente, se reerguer.
Porém, desta vez, não será nada fácil.
Sem ter as vantagens políticas como moeda de troca (o já combalido PT, ainda mais após a “gafe” de citar o nome da presidente com conhecido operador de propina, certamente, irá abandoná-lo), restará ao ex-presidente alvinegro inserir parte do patrimônio amealhado num jogo de interesses que, a cada dia, troca de comando e direção,
Em resumo: somente o Corinthians, se os conselheiros permitirem (e o sistema de encabrestamento por “Chapão” permanecer), podem dar sobrevida (no mundo do futebol) a quem já tem hora marcada para morrer, na vida política, e também na criminal, cercado que está de investigações graves (algumas desdobradas do TRE-SP), que envolvem corrupção, “laranjas”, propinas, imóveis e dinheiro sem origem, além doutras complicações.