(Trecho da Coluna de JUCA KFOURI, na FOLHA)

Ao ver a tentativa de alguns meios em aproveitar a polêmica sobre a biografias para o Fla-Flu eleitoral já em curso, confesso que pela minha eterna admiração, simpatia e respeito por figuras como Chico, Caetano e Gil, senti vontade de apoiá-los. Mas não dá.

Verdade que meu apoio, por insignificante, não lhes traria nenhuma vantagem nem alteraria o tamanho da derrota. Menos mal que Chico, bem Chico, a reconheceu com o seu singelo “perdi” e ao dizer que “julgava que estava tendo uma posição sensata”. Não estava.

Com dois direitos essenciais em falsa oposição, o da liberdade de expressão e o da privacidade, parece claro haver como harmonizá-los –desde que a Justiça seja célere e rigorosa com quem ferir o segundo por abuso do primeiro.

Porque, para ficar no campo do esporte, biografia chapa branca é algo tão farsesco que uma sobre João Havelange, “Jogo Duro” (melhor seria “São João Havelange” ou “Marmelada”), obrigou seu autor a fazer um filme para tentar se justificar depois da desmoralização mundial do cartola pelos fatos tratados no livro como leviandades. A obra encalhou para azar de sua patrocinadora, a Petrobras.

Não que uma biografia autorizada seja necessariamente chapa branca, mas quando se negocia com o biografado a autorização do imprima-se é porque a preocupação com a credibilidade foi pro espaço e, aí sim tem razão o trio de gênios da MPB, só resta o interesse financeiro.

Pelé, um dia, pediu-me que escrevesse a dele. Topei. Contaria tudo, das glórias infinitas aos vexames, episódio da filha não reconhecida, tudo.

Até que ele fez, em 2001, o “Pacto da Bola”, com Havelange, Ricardo Teixeira et caterva.

Disse-lhe que o capítulo sobre tal capitulação teria como título “O dia em que Edson traiu Pelé”. O Rei não gostou e eu desisti da biografia.

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