Ontem, numa entrevista à Rede Globo, indigna de ser tratada como jornalística, apresentou-se um menor de idade que diz ser o atirador do sinalizador que matou um garoto de 14 anos, durante a partida entre San Jose e Corinthians, na Bolívia.
A história contada, nada verossímil, não foi em nenhum momento questionada pelo repórter Valmir Salaro, visivelmente constrangido com sua atuação.
O suposto autor do disparo diz ter 17 anos, pai de uma criança de dois anos, e ser o terceiro de uma prole de seis filhos, todos criados com dificuldades pela mãe.
Até pela idade, hábitos e “cultura” demonstrados durante o depoimento à Globo, é difícil supor que, em sendo verdade a versão de que possui emprego, e ainda estude à noite, o garoto receba um bom salário.
Ainda mais faltando durante uma semana no suposto “serviço” para acompanhar o Corinthians na Bolívia, ou noutros lugares que o clube viajou, já que, em depoimento de alguns torcedores, não seria a primeira viagem do garoto com a “organizada”.
Portanto, no curto espaço de sete dias, o menor dos Gaviões teria gasto aproximadamente R$ 600 em compra de sinalizadores, tendo ainda sobrado quantia suficiente em seu bolso para custeio de passagens, estadia, alimentação e ingressos.
Vale lembrar que, “oficialmente”, a diretoria do Corinthians diz não ter ajudado os “organizados” na viagem.
Chega também a ser risível a versão de que comprou o tal sinalizador de um camelô na Rua 25 de março.
Não há possibilidade de o produto ter sido vendido em lojas no local, quanto mais num camelô, segundo gente conhecida deste jornalista, consumidor habitual de sinalizadores para serem utilizados em suas embarcações.
Embora a polícia tenha ótimos meios de constatar a presença do menor no local, levando-se em consideração que toda a rua é coberta por câmeras que gravam 24 horas de sua movimentação, algumas, inclusive, disponíveis pela internet.
Difícil também será explicar o motivo da sequencia numérica do sinalizador apreendido pelos bolivianos com torcedores do Corinthians ser a mesma do objeto que atingiu e matou o garoto Kevin.
Outra coisa a ser questionada é que, pela legislação brasileira, para um garoto de 17 anos viajar para fora do país, com pessoas que não sejam parentes, é necessária não apenas a autorização do responsável, mas também um alvará judicial.
Onde estaria esse documento ?
Se viajou de maneira irregular, sob custódia dos Gaviões, como declarado pelo próprio, cometeu ainda o crime do qual é réu confesso – se é que realmente cometeu – e agora tem advogado pago pela organização criminosa organizada, não seria a “torcida” passível de enquadramento no crime de corrupção de menores ?
Certo é que, se o garoto realmente foi plantado pela “organizada”, e tudo indica que foi, para proteger segredos da relação entre Corinthians, Gaviões e um dos presos na Bolívia, diretor financeiro dos “torcedores”, a ação lembra em muito hábitos conhecidos do mundo da criminalidade.
Nada que ocasione surpresa no Parque São Jorge, em que a gestão, há anos, é dividida entre dirigentes, membros das torcidas e integrantes de facções criminosas, um deles, por sinal, assassinado recentemente em acerto de contas da bandidagem.