Por PAULO DE TARSO BRONDI*

De início, devo esclarecer que o comentário que segue é despido de qualquer viés político, sobretudo. Ele vem, sim, de um apaixonado por futebol, que, na companhia do saudoso pai (que por quase 20 anos foi Promotor de Justiça em Presidente Prudente), por muitas vezes acompanhou os jogos de futebol na cidade; que jogou na Acae, na escolinha do Luis Carlos, no San Fernando etc.

Pois bem. Nas últimas semanas li e ouvi que o time de futebol Grêmio de Barueri, pertencente ao empresário Walter Sanches, está deixando sua cidade de origem, que lhe dá o nome, e se mudando para Presidente Prudente.

Como prudentino de nascimento, e apaixonado por futebol, vejo a manobra como uma verdadeira e triste farsa, a fim de encobrir a incompetência de várias gestões da Administração Pública da cidade e atender a um descarado e vergonhoso jogo político e de interesses, sempre sob a batuta do “deus dinheiro”.

Ora, por anos a fio, a nossa cidade deu de ombros para o esporte em geral, e, também, para o próprio futebol. Isso explica, pois, o fato de que, desde o fim do Corinthians-PP, ainda no lumiar da década que passou, a cidade não possui um time capaz de representá-la, com alguma dignidade, nos campeonatos estaduais (talvez, nem com o Corintinha). Houve, desde então, algumas tentativas, malsucedidas, diga-se, de se levantar o esporte na cidade. Surgiram, então, o Prudentino, o Presidente Prudente e, mais recentemente, o Oeste Paulista, que caiu de divisão no ano de 2009 (quarta divisão).

Afirmo, assim, que Presidente Prudente, com seus mais de 200 mil habitantes, não tem, há décadas, um time de futebol à sua altura. Nesse tempo, outras cidades menos expressivas, como Mirassol e Monte Azul Paulista, dez vezes menores, pasmem, conseguiram levar seu nome à divisão maior do Estado.

Mas, não bastasse, o esporte em geral na capital da Alta Sorocabana anda em frangalhos. Nosso time de basquete há anos se classifica para jogar a primeira divisão do Estado, mas não a disputa. Por que? Porque não possui verbas para tanto. E já tivemos a Prudentina, que abrigou uma certa jogadora de nome… Hortência.

O atletismo? Piorou. Perdemô-lo para Bragança Paulista, pelo menos o que tínhamos de melhor. Perguntem para o Claudinei Quirino.

Por isso, a nova empreitada, largamente noticiada na imprensa, cheira-me a politicagem, a um jogo de interesses, que outra coisa não é senão um engodo. E o povo prudentino parece se iludir com isso. Não, não devemos nos deixar iludir. Tudo não passa de uma encenação. Esse monstrengo, essa mutação, chamada Grêmio Barueri (ou Prudentino), não nos pertence. É simplesmente um filhote de interesses políticos e econômicos, que se alimentará pela falsa imagem de ser um produto genuinamente nosso. Mas não é.

É, pois, com muita surpresa que leio uma declaração do senhor Milton Carlos de Mello, o Tupã, alcaide prudentino, na reportagem sob o título “Em Prudente, Barueri divide futebol e política”, da Folha de SP do dia 21/01/2010, neste sentido: “A população prudentina é apaixonada por futebol.” Nada mais equivocado, pois dizer que prudentino é APAIXONADO por futebol beira as raias da heresia.

Sim, porque nosso elefante branco, o Prudentão (que por jogo de interesses, também, recebeu o nome de Eduardo José Farah), pouquíssimas vezes abrigou mais de 2 ou 3 mil pessoas em jogos de times da cidade, mesmo quando estes realizavam uma campanha razoável no campeonato (raridade nos últimos tempos). Lembro-me, com desalento, que o finado Corintinha, nos seus últimos anos, levava nada mais que 300, 400 ou 500 “testemunhas” em seus jogos. Ultimamente, o OPEC, quiçá, nem isso levou.

Outra heresia é pensar que, agora, Prudente estará definitivamente no mapa de nosso futebol, como igualmente afirmou o citado mandatário local. Ora, já não estava sob as luzes dos holofotes quando abrigou inúmeros clássicos, mormente nos últimos tempos? Mas, isso, nos chamados “grandes jogos”. Pergunto: quais grandes jogos o novo time trará a Prudente? Nenhum, garanto. Copa Sul-Americana? Uma piada.

Se seus donos pensam que conseguirão angariar grandes bilheterias na nova cidade, coitados, enganam-se esplendidamente. Nos primeiros jogos, quem sabe, mas depois… Para exemplificar, vejam o público pagante na partida contra o Palmeiras: 10.032 pagantes. Pífio.

Porque a Presidente Prudente de hoje não está nem aí para o futebol, ou para qualquer outro esporte. Pensem e reflitam: quantos jogadores de nível revelamos para o futebol? Nenhum, pelo que me lembre. Isso denuncia a falta de estrutura da cidade, carcomida por anos de governos coronelistas. 

Revelar talentos do futebol definitivamente não é da nossa tradição. Se algum dia foi, já nem mais nos lembramos. Por isso, pensar que um time de aluguel, que até dono tem, representará a cidade nos gramados a fora é uma teratologia. É, repito, mera ilusão. Enfim, uma gigantesca farsa.

Um dirigente de um dos times da cidade, o Presidente Prudente – que também naufragou, por falta de apoio -, disse àquele mesmo jornal: “Dificilmente os empresários de Prudente vão investir no Barueri. Aqui é difícil arrumar patrocínio.” Ele está errado? Não, porque, realmente, o grande empresariado da cidade está se lixando para o nosso esporte, incluindo o futebol. Isso explica, certamente, porque há anos – desde o fim da saudosa Prudentina – não temos um time na primeira divisão do Estado.

E não teremos agora, porque não estamos autenticamente representados.

Mas, o que fazer, num país que tem se acostumado a viver em seguidas e grandes farsas, construídas amiúde pela classe política e econômica dominantes. E, sempre, às custas do povo, que parece não querer enxergar aquilo que o envolta.

Assim, promovem-se Pan-Americanos, Copas e Olimpíadas com o nosso suado e parco dinheirinho, sob o pilantresco (permitam o neologismo) argumento de que “tudo trará novos ares ao país e oportunidades ao povo”. Cometem-se os maiores pecados em nome dele: Povo. É a miserável “opinião de massa”, praga predominante atualmente, ante a própria falta de opinião que nos assalta. Assim, levantam-se construções faraônicas e engendram-se transações nababescas, que, por anos a fio, consumirão os recursos que se destinariam ao falido sistema de saúde, ao inexistente sistema de segurança pública, enfim, ao melhor aparelhamento das instituições do Estado. Enquanto isso, milionários ficam mais ricos, corruptos zombam da honestidade e milhões mínguam e morrem às ocultas neste país-continente.

É o que ocorre na distante Presidente Prudente. Para esconder seguidos anos de incompetência na área esportiva, e para, claro, promoção pessoal perante o povo-eleitor, os políticos prudentinos – ou alguma parte deles – enfiam-nos goela abaixo a ideia de que, agora, Prudente (re) nasce para o mundo futebolístico. Mal sabem no que se metem, pisam ovos; ou sabem, talvez, mas fecham convenientemente seus grandes olhos bons. É o jogo do “Vale Tudo”.

O povo prudentino, “apaixonado por futebol”, no entanto, não percebe que tudo isso envolve a grande peleja da politicagem e do dinheiro fácil. Mal sabem que, se tudo for por água abaixo – e, particularmente, espero que vá -, simplesmente os donos do “novo onze prudentino” arrumarão suas trouxinhas e partirão a um novo rumo, adotando outra cidade para estabelecerem seu empreendimento. Quem sabe, daqui alguns anos, o Grêmio Prudentino, que outrora foi Grêmio Barueri, partirá num rabo de foguete e será, então,  o Grêmio Venceslauense ou Francana ou Araraquarense etc. Mas, nunca, deixará de ser um time de aluguel, nem nunca será um time genuinamente prudentino. Será, tão somente, um produto artificial, cujo gosto não me agrada.

Infelizmente, nós prudentinos vimos soçobrar, sem nada fazer, outros que bem poderiam melhor nos representar, trazendo a verdadeira identidade da cidade, como o Corintinha, o Prudentino (Cavalo do Oeste), o Presidente Prudente.

Mas, e agora, vamos abraçar algo que não nos pertence originalmente, para ficarmos órfãos depois, alçando aos céus pessoas que poucos se importam com nosso esporte, a não ser com seus próprios e mesquinhos interesses? É melhor não.

Tristemente, o futebol prudentino conseguiu ir mais a fundo no grande buraco em que já se encontrava.

Portanto, acordemos população prudentina. Não sejamos cegos. Não aceitemos essa mentira que nos querem impingir. Podemos ser mais, muito mais. Não nos curvemos perante a incompetência e os interesses alheios.

Ao fim, reconheço que, por ora, minha opinião caminha solitária, mas ainda espero que a nação prudentina – pelo menos a sua parte séria, que não é levada pela “opinião de massa” -, levante-se e diga não a essa farsa.

Grêmio Prudentino? A mim não engana.

*Paulo de Tharso Brondi, 25 anos, é Funcionário Público

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