Por ALBERTO MURRAY NETO

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No final da década de trinta o então Governado Ademar de Barros chamou nosso Atleta de maior expressão no exterior, Capitão Sylvio de Magalhães Padilha, nascido no Estado do Rio de Janeiro, que figurava entre os três primeiros no ranking mundial nos 400 metros sobre barreiras, para fincar as bases do esporte em São Paulo.

Padilha criou o Departamento de Esportes e Educação Física do Estado de São Paulo. E daí surgiram as primeiras leis que regulamentaram a atividade esportiva e da prática profissional da educação física no Brasil.

Antes disso não havia rigorosamente nada.

Apareceram as competições de massa, tais como Jogos Abertos do Interior, Jogos Colegiais, Jogos Regionais, Troféu Brasil de Atletismo (antes denominado Troféu Governador Ademar de Barros), Jogos Intercoloniais, Troféu Bandeirantes, Turmas Volantes no Interior do Estado e tantas outras. Fizeram-se os primeiros complexos poli esportivos de São Paulo e do País, com o intuito primordial de tornar o esporte acessível para todos.

Anos mais tarde, o ditador Getúlio Vargas resolveu criar leis federais para regulamentar a atividade esportiva na Federação. Vivía-se o Estado Novo, mais um período sombrio da política nacional. Vargas impingiu as leis federais do esporte a seu modo.

Fez tudo de forma que a mão forte do Estado controlasse as Confederações Desportivas.

No frigir dos ovos, a União Federal, leia-se Getúlio Vargas, o déspota, tinha poder pessoal sobre tudo.  A legislação autoritária de Getúlio Vargas perdurou até a edição da Lei Zico. No meio do caminho houve vários projetos para alterá-la. Mas como os governos sempre trataram o esporte amador com desídea, o Congresso Nacional engavetava, deixava para lá, tudo que dizia respeito à criação de uma política esportiva de massa para o esporte do Brasil.

O Capitão Padilha deu uma entrevista de repercussão nacional, criticando severamente a forma como Vargas, onipotente, outorgara a sua legislação nada democrática. Como retaliação, Vargas transferiu o Capitão Padilha, o grande Atleta de sua geração, para Passo Fundo, no Rio Grande do Sul, aonde não havia água quente, nem luz elétrica.

O Capitão, perseguido pela ditadura Vargas, deixaria o exército brasileiro um ano depois, como Major. E dedicou toda sua vida ao esporte.

Lí na Folha de São Paulo que o Comitê Olímpico Brasileiro (“COB”) ficou irritado com uma reunião havida pelas Confederações, feita sem o conhecimento prévio da entidade. As Confederações queriam discutir formas alternativas de captação de recursos, articularem-se de forma a dirigirem-se diretamente ao Ministério do Esporte em busca de dinheiro e, dentre outros, utilizar em Jogos Sul Americanos, Pan Americanos e Olímpicos, os uniformes de seus próprios patrocinadores.

A reação do COB, descrita pela Folha, lembrou-me os anos da ditadura getulista, em que as reuniões de segmentos da sociedade que não ocorressem sob o beneplácito do Estado Novo eram vistas como subversivas.

Por que não podem as Confederações reunirem-se quando quiserem?

Por que o COB reage negativamente quando as Confederações, por iniciativa própria, decidem encontrar-se para tentar buscar novos rumos para o olimpismo nacional?

Por que o COB repudia a idéia de que as Confederações possam contactar diretamente o Ministério do Esporte, para discutir com o Ministro, sem intermediários, as suas necessidades?

A resposta reside no fato de que o COB quer que todas as ações de suas filiadas estejam sob seu controle. Assim como Getúlio também desejava que todos os segmentos sociais, dos partidos políticos aos sindicatos, dependessem de sua pessoa.

Essa mentalidade do COB prejudica o esporte nacional e vai de encontro aos princípios democráticos.

Outra atitude ditatorial que atrapalha – e muito – a vida das Confederações é a inexplicável exigência de que todas as modalidades apresentem-se em Jogos Sul Americanos, Pan Americanos e Olímpicos com as indumentárias do patrocinador oficial do COB.

É tão difícil às Confederações arranjarem patrocínios próprios que essa medida impositiva do COB apenas torna a tarefa de cada modalidade ainda mais árdua. Ora, se os respectivos patrocinadores de cada modalidade não poderão expor suas marcas nos momentos de maior visibilidade, o interesse das empresas em investir no esporte diminui bastante.

Os valores diminuem muito. E desse jeito, as Confederações ficam de mãos atadas e cada vez mais dependentes do COB.

Talvez dar maior liberdade de ação às Confederações desportivas olímpicas, cause calafrios no COB.

Fosse eu o responsável por esse assunto, daria às Confederações a possibilidade de usar as roupas do patrocinador oficial do COB. Mas também deixaria cada modalidade absolutamente livre para, caso preferissem, usar os uniformes de seus próprios patrocinadores. A única coisa que tem que observar – e isso é fácil de resolver – é que haja uma padronização no desenho e na confecção dos uniformes, independentemente de quem seja o fornecedor do material esportivo.

Que se dê mais liberdade de ação a todas as Confederações Olímpicas.

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