Maradona e mundiais

Por SÓCRATES

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Pareceu-nos mais um lance promocional aquela “estória” um dia veiculada de que Maradona pretendia jogar no Santos. Assim como um dia assumiria o comando do Napoli. Como tantos outros em final de carreira, ele buscava naquele tempo manter viva a chama da vitrine, utilizando toda a sorte de artifícios. O momento da despedida deve ser tratado com muito carinho, pois é traumático e brusco, porém rico em ensinamentos e crescimento pessoal. Deixar que o personagem se ausente da forma mais natural possível, preservando cuidadosamente o ser que o abrigou por muito tempo, é um ato de lucidez que promove o necessário bem-estar. Quando não se consegue desligar do passado, impede-se o nascedouro do futuro.

Saber esperar esse instante de ruptura social e profissional com dignidade e preparo é uma arte exercida por poucos e sábios atletas. A partir dali, jamais as luzes serão as mesmas, porém, quando seus focos eventualmente localizarem tanto o homem quanto o personagem, saberão distinguir a quem serão dirigidos.

Hoje, Maradona sabe muito bem o que é isso. Muito tempo depois daquelas “estórias”, foi convidado, aceitou e assumiu o comando da seleção argentina de futebol. Uma empreitada para poucos corajosos e qualificados. Quando deste episódio, analisávamos e entendíamos como uma aposta seria válida pelo que ele representa para o seu povo e pela disposição de utilizar determinada filosofia no processo de elaboração de sua equipe. Entretanto, os riscos eram maiores ainda, já que, sendo quem é, deveria perceber que as cobranças não seriam pequenas e que os resultados deveriam ser imediatos. Pelo jeito, as reações já se fizeram sentir. Após a acachapante derrota de 6×1 para a Bolívia e esta última, para o Equador, muitos já lhe voltaram as costas e sua longevidade no posto mais do que nunca depende de uma resposta imediata do time. Com vitórias e a segurança da classificação para o Mundial. Algo ainda em suspenso.

A Federação Paulista de Futebol, vira e mexe, ameaça executar a desfiliação de algumas equipes por culpa de suas dívidas trabalhistas com funcionários e jogadores. Esta é uma medida largamente utilizada no futebol europeu, que busca, assim, preservar as instituições de maus administradores e, principalmente, os atletas. Aqui, porém, não é assim que funciona, apesar de eventuais anúncios amea-çadores. Acreditamos que as contas das sociedades esportivas deveriam ser objeto de pleno controle no intuito de evitar desmandos, como os que ocorrem com frequência em nosso meio. Se tivéssemos como norma esse tipo de conduta, talvez equipes como o Flamengo e tantas outras não estariam na situação em que hoje se encontram.  Infelizmente, nada se faz e as administrações dos nossos clubes continuam tomando posições que vão contra os interesses dos associados, que, em última análise, são os que perdem, já que o patrimônio das instituições é propriedade do conjunto de sócios.

A seleção brasileira deve ter se assustado com o desenrolar da primeira partida da Copa das Confederações, em que quase perde para o Egito. Certamente, as críticas ao resultado devem ter invadido a concentração brasileira mais potentes do que qualquer apartheid sul-africano. Vimos naquele jogo uma equipe que, a partir do empate, ficou com medo de jogar, alquebrada na responsabilidade de reverter a situação e limitada em suas ações. É notório que existem jogadores que se sentem já tendo assegurada a vaga para o mundial e estão se apresentando de forma absolutamente burocrática, tecnicamente muito abaixo das nossas necessidades. Por outro lado, temos no atual grupo jogadores de limitadas qualidades que não deveriam sequer aventar a possibilidade de retornar ao país de Nelson Mandela no próximo ano.

Mudando um pouco de tema, a próxima Copa do Mundo será extremamente importante para o nosso país, já que seremos anfitriões em 2014. Lá no Sul da África, veremos problemas semelhantes aos que temos e perceberemos se são passíveis de solução ou não. A atual competição serve fundamentalmente para observar a quantas anda a gestão do mundial um ano antes de acontecer. E já se vê que não serão poucos ou simples os obstáculos a ser transpostos. Como aqui ainda pouco se fez para nos prepararmos para 2014, é importante salientar que a tarefa que se avizinha é imensa e que já deveríamos estar em campo para viabilizá-la a contento. Ninguém quer passar vergonha.

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