A um ano da Copa

Por SÓCRATES

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Noventa milhões em ação,/ pra frente Brasil, do meu coração!/ Todos juntos vamos/, pra frente Brasil,/ salve a seleção!

Quem não se lembra destes versos de uma canção que marcou eternamente a fantástica equipe que representou o Brasil na Copa de 70? Exaltava a extrema comoção que assaltava nosso povo naqueles duros anos de repressão, quando a pureza era marca registrada das relações humanas e o futebol era belo, calmo e simples.

Voa canarinho voa,/ mostra pra esse povo que és um rei,/ Voa canarinho voa,/ vai mostrar para o mundo o que eu já sei.

Estes são versos de outra melodia, para a Copa da Espanha, que representou uma nova época áurea de nosso futebol. Em 1982, todos, sem exceção, estavam mobilizados na corrente que nos empurrava para a frente. Novamente tínhamos um time para nos orgulhar. Perdemos, mas fomos recebidos como vitoriosos. Não trouxemos o caneco, porém conquistamos o respeito e a admiração do mundo dos espetáculos.

Estas foram as duas maiores equipes que pudemos produzir e que representam até hoje um enorme orgulho nacional, exatamente por tudo que puderam gerar positivamente para o nosso país. O futebol é nosso produto de maior aceitação em todo o mundo e é por isso que gostaríamos que fosse mais bem gerenciado.

Daqui a pouco menos de um ano, contra os melhores do planeta, iniciaremos o terceiro Mundial do século com um gostinho amargo na boca de cada brasileiro. Vencemos na Ásia quando não acreditávamos, uma vez que havíamos feito uma campanha irregular nas eliminatórias, com direito a mudanças no comando e à chegada de Luiz Felipe Scolari – que acaba de dar vários passos atrás em sua brilhante carreira –, cuja biografia e caráter pouco tinham a ver com a política esportiva executada em nosso futebol.

E nos frustramos na edição seguinte, em 2006, quando nos descuidamos da essência do futebol e nos preocupamos apenas em demonstrar um talento que já não existe em profusão e qualidade e que, portanto, não nos oferece a perspectiva da vitória antecipada e do sucesso fácil. Estes (vitória e sucesso) devem ser perseguidos com obstinação e pés no chão, para que os deuses dos estádios não se voltem contra nós mesmos.

A esperança continua eterna, mas a confiança anda distante no olhar da maioria dos apaixonados por este esporte. Haja vista a pouca procura por ingressos de nossos jogos na Copa das Confederações prestes a se iniciar. Mesmo assim, nossa equipe vai a campo com os olhos e o coração de cada um de nós tentando ajudá-la de todas as formas possíveis. Orações e promessas são feitas em cada rincão deste imenso país como forma de expressar um amor imenso aos nossos atletas, que nem sempre se dão conta do fato.

Obviamente que a seleção não é mais a pátria de chuteiras, entretanto, é a nação com milhões de chuteiras, ataduras, meias e a honrada amarelinha que pulsa dentro de cada sonho dos brasileiros.

O olhar estatelado junto à tela da tevê e o descuido com os demais afazeres – que se danem os afazeres! É tempo de o País parar, de os bares lotarem, de reunir toda a família, de se vestir com uma roupa chamada Brasil que muitas vezes é esquecida no fundo do armário com cheiro de naftalina velha.

Nada como uma Copa do Mundo para unir todos os brasileiros, a reconhecer quem somos e abraçar a solidariedade. Definitivamente, este é o país onde o futebol vale mais do que ações na Bolsa, cofre de banco, decreto presidencial. O Mundial é o momento certo para exprimir nossos melhores sentimentos e nos sentirmos realizados. Os velhos personagens que pintam de beleza nossos sonhos continuam a bordar nossa alma de alegria e só terminam a sua obra a cada Mundial que participamos. Que os fluidos positivos que todos endereçam aos nossos jogadores sejam recebidos em toda a sua plenitude e que os deuses que regem este esporte mais uma vez se voltem para eles e que possam permitir que demonstrem todas as suas qualidades esportivas.

Tudo isso já está sendo preparado por nosso povo. Ainda que neste momento estejamos um pouco distantes da nossa seleção, sabemos que com a proximidade da Copa voltaremos a nos apaixonar por ela e com ela aterrissaremos na África do Sul, no próximo ano, para mais um mês de encantamento e emoção que nos abastecerão de energia pelos anos seguintes até que o Mundial aqui chegue em 2014.

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