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             Recibo de penhora de V(W)anderlei(y) Luxemburgo

Da ISTO É

http://www.terra.com.br/istoe/1662/brasil/1662_pagode_rasteira.htm

Luxemburgo não paga promissória de R$ 500 mil emitida para comprar um restaurante, fecha a casa para reforma, some com objetos do ex-dono e é cobrado na Justiça

As mesas do Elias Comidinhas & Bebidinhas, reduto de palmeirenses e um dos restaurantes prediletos dos aficionados do futebol em São Paulo, foram palco de muitas histórias.

Aberto em 1981 por Elias de Souza no bairro de Perdizes – a poucos metros do Parque Antarctica, o estádio do Palmeiras, o time do coração do dono –, o misto de bar e cantina italiana tinha um eclético time de clientes.

Jogavam, entre outros, o economista Joelmir Betting, os craques Zinho e César Sampaio, o ex-técnico Telê Santana, o ex-governador paulista Paulo Maluf, o tricampeão de Fórmula 1 Nélson Piquet e o ator Lima Duarte.

O restaurante abrigou também festas importantes, como a organizada para o lançamento do belo filme Boleiros, de Ugo Giorgetti.

A história contada nessa reportagem seria prato cheio numa mesa do Elias, não fosse a parte final justamente o seu fechamento.

Seu Elias perdeu a casa e a marca após uma sucessão de trapalhadas protagonizadas pelo técnico do Corinthians, Vanderlei Luxemburgo, sua mulher, Josefa, e os irmãos Sydney e Simone Souza, filhos do fundador do restaurante.

PENHORA  

O caso mistura relacionamento extraconjugal, questionamento de paternidade e uma nota promissória de R$ 500 mil, assinada, mas não paga, por Luxemburgo.

O capítulo mais recente é uma decisão da juíza Luiza Liarte, incluída no processo 01.024638-0, da 8ª Vara Cível de São Paulo.

Ela ordenou a penhora de um apartamento de 362 metros quadrados de Luxemburgo, na rua das Mangabeiras, 135/101, Pacaembu, em São Paulo, com escritura registrada no valor de R$ 700 mil, no Condomínio Luxembourg.

Simone e Sydney afirmam ter vendido ao técnico dois terços do restaurante da família, além da marca Elias Bebidinhas & Comidinhas, no dia 1º de novembro de 2000.

Luxemburgo, dono do outro terço desde 1997, deu R$ 100 mil no ato e a promissória de R$ 500 mil.

“Não quero comentar. Deixe eles falarem. Vou me defender na Justiça”, disse Luxemburgo a ISTOÉ.

Antes da penhora, os advogados do técnico ofereceram, como garantia da dívida, a VV Restaurante, uma firma com capital social de R$ 50 mil criada em nome de Vanessa e Valeska, filhas do técnico, para administrar o Elias na “era Luxemburgo”.

A juíza achou pouco.

Vanderlei fechou o Elias em dezembro passado, um mês trágico para os Souza.

Além do restaurante, a família perdeu dona Vitalina, aos 65 anos.

Ela morreu no dia 6 de dezembro, horas depois de Sydney ter assinado a transferência do bar e da marca Elias para o técnico.

“Estávamos fragilizados. O Vanderlei sabia disso e se aproveitou da situação. Confiamos nele e deu no que deu”, lamenta Sydney, conhecido como Panda, hoje jurado de um programa apresentado por Castrinho na Rede TV!.

A mobília e os objetos de decoração do restaurante foram recolhidos.

“Minhas camisas, autografadas pelos jogadores do Palmeiras que ganharam o supercampeonato em 1959, e a de um jogo de 1965, em que o meu time representou a Seleção Brasileira, sumiram”, lamenta seu Elias com lágrimas nos olhos.

Contratado pelo Palmeiras, Luxemburgo passou a frequentar o restaurante em 1993.

“Neste período, iniciamos um romance, que durou até o final de 1996”, afirma Simone.

“Ele não é fácil. Sabe exatamente o que fazer para seduzir uma mulher”, completa ela.

Enquanto o Palmeiras conquistava o bicampeonato em 1994, o restaurante explodia.

A cada mês, Elias e seus filhos vendiam 3.500 porções de carpaccio e mil pratos de campanário, uma massa com queijo.

“Gastávamos R$ 20 mil e o faturamento médio era de R$ 50 mil por mês”, conta seu Elias.

Eram tempos felizes.

Sydney apresentava a noite paulistana ao novo amigo.

“Eu o levava a casas noturnas, mulherada, essa coisa toda, sabe?

Cheguei a evitar que um cara o pegasse com uma faca em um café”, conta.

Em ocasiões especiais, Luxemburgo, nascido na Baixada Fluminense, exibia no restaurante os seus dotes de pagodeiro.

O técnico tratava seu Elias como seu “segundo pai”.

O fundador do restaurante retribuía o carinho: “Luxemburgo era o filho que eu gostaria de ter no futebol e não tive.”

A família Souza avalizou operações de leasing feitas pelo treinador para comprar carros luxuosos.

Simone conta que, para não se expor, Vanderlei recorria a ela para executar, em cemitérios, cachoeiras e encruzilhadas, os despachos exigidos por uma mãe-de-santo paulistana para proteger as equipes do técnico.

“Uma vez, no Elias, ela discutiu com o Vanderlei, que prometeu comprar para ela a casa em que vivia, mas não cumpriu”, conta Simone.

Deslumbrados com o amigo ilustre, Simone e Sydney cometeram o primeiro erro.

Arrumaram um novo sócio, Jorge Abduch, gastaram R$ 160 mil e inauguraram, em setembro de 1995, na mesma rua do Elias, um outro restaurante chamado Anexo.

“A casa não tinha identidade”, reconhece Simone.

Abduch abandonou logo o barco.

Queria R$ 50 mil por sua parte, mas acabou vendendo-a por R$ 35 mil, em julho de 1996.

O comprador foi ele mesmo: Vanderlei Luxemburgo da Silva.

Trapalhadas – O Anexo continuou mal das pernas e fechou.

Luxemburgo comprou, então, um imóvel ao lado do Elias.

Simone, Sydney – que tinha recebido no papel o restaurante do pai – e o técnico aumentaram a capacidade do Elias de 25 para 100 mesas.

Com o triplo de funcionários, a nova casa foi reaberta em 1998.

As despesas bateram nos R$ 50 mil mensais e a receita caiu 30%.

O pagode começava a desafinar.

“Vanderlei prometeu usar seu prestígio no marketing da casa, mas a Jô (Josefa), mulher dele, soube que tivemos um caso e exigiu que ele se afastasse de nós.

O Elias afundou de vez.

“No final, ele nos empurrou esse contrato, levou tudo e não pagou”, acusa Simone.

Meses antes da reabertura, Simone casou-se com o paulistano Rogério Jordão.

Em 1998, teve uma filha, Pamela.

A união durou pouco.

No divórcio, Jordão não pagou pensão alimentícia.

“Não sei se a filha é minha ou de Luxemburgo”, disse na época, apoiado por sua família.

“A menina é do Rogério”, afirma Simone.

“A Pamela não lembra em nada o Luxemburgo”, faz coro o advogado dos Souza, Munir Jorge Júnior.

Simone sabe que um teste de DNA resolveria a parada.

“Mas não quero fazê-lo agora”, diz ela.

O ex-marido Jordão vive nos Estados Unidos.

Seu Elias começou a vida como copeiro.

Em seu primeiro restaurante, o Dom Camilo, também em Perdizes, cansou de ouvir o ex-presidente Jânio Quadros gritar: “Dá uma lisa (pinga) para mim.”

No Dom Peponi, a segunda casa, no Sumaré, o general Costa e Silva costumava baixar a guarda diante de um spaghetti ao alho e óleo escoltado por uma taça de vinho.

Teve mais três restaurantes antes de abrir o Comidinhas & Bebidinhas.

Ao comprá-lo, Luxemburgo prometeu entregar-lhe a administração do negócio, oferecendo 30% do lucro mensal.

“Isso não será mais possível”, disse o técnico.

“Eu e Sydney também erramos muito. Colocamos em risco o que meu pai conquistou. Mas agora o melhor seria receber o que o Vanderlei assinou”, conclui Simone.

O técnico diz que está pronto para reabrir o espaço.

Debilitado pelo mal de Parkinson, seu Elias, a vítima, tenta começar de novo.

Ele negocia um novo ponto, também próximo ao Palmeiras.

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