Ronaldo tem toda a razão

Por SÓCRATES

http://www.cartacapital.com.br/app/coluna.jsp?a=2&a2=5&i=4064

Talvez nem todos tenham entendido o desabafo de Ronaldo na entrevista coletiva após a conquista do título paulista pelo Corinthians. Além do exposto por ele, contudo, existem inúmeras razões para não ir aos estádios.

Ir a um jogo é exatamente como viver no Brasil. É dar de frente com todos os problemas e não ter com quem reclamar. É ficar impotente diante dos acontecimentos e muito mais irritado, sabendo que a maioria dos problemas poderia ser resolvida com um pouco de vontade política.

Como a política no Brasil é utilizada para interesses de minorias, estão realmente acabando com o espetáculo futebolístico. As torcidas violentas nada mais são do que a reação de uma torcida violentada. Caberia à imprensa fiscalizar, tentar fazer o futebol ser organizado, cobrar a solução dos problemas do cotidiano do torcedor. O que sentimos, porém, é uma conivência indecente entre boa parte da mídia e a cartolagem.

Em nossas vidas, as paixões são difíceis de ser administradas, e o nosso time é uma grande paixão. Quando se vai a um jogo, além de expor essa paixão, ainda se tem de passar por enormes carências; as mesmas do País: justiça, saúde, segurança e transporte, entre outras.

Compra do ingresso

Onde comprar ingresso? O torcedor fica feito “barata tonta”, sem saber para onde ir. Com dois dias de antecedência, é impossível saber o local e a hora de comprar ingresso. Quando se vai ao guichê, é a maior confusão, não existe organização na fila. Dificilmente uma mulher ou uma criança conseguem adquirir ingresso. Em grandes jogos, são abertos poucos guichês com filas enormes e, de vez em quando, abertos novos guichês. Não se respeita mais a fila anterior, diante de uma polícia totalmente despreparada. Ou seja, uma verdadeira guerra. E o tamanho do guichê ainda é minúsculo.

A imprensa deveria passar por esse sacrifício todos os jogos, para que tenha ideia do que é. Assim, quem sabe, colocaria a boca no trombone, na tentativa de resolver os problemas. Por outro lado, vá a um estádio desconhecido e verifique se existe a possibilidade de saber quais os locais e tipos de ingressos oferecidos. Será que é tão difícil distribuir mapas para a localização dos torcedores?

Transporte

Quem vai ao estádio de carro tem de deixá-lo bem afastado. Os estádios não são preparados, não possuem estacionamento. Paga-se um guardador, pago para não danificar o veículo na verdade, e pronto.

Quem não tem carro, a maioria, é transportado como gado: um torcedor em cima do outro, de nariz apertado contra os vidros. Nesse contexto, qualquer fabricante de sardinhas em conserva aprenderia como otimizar o espaço de suas latas.

Segurança

Como ir a um lugar, pagar e não saber como voltar para casa? Os jogos são muito violentos. Do lado de fora do estádio, a cavalaria tenta se impor e amedrontar os torcedores. Dentro do estádio, as escadas para acesso aos lugares ficam todas tomadas. Se for necessária uma saída rápida dos torcedores, será uma mortandade geral. São “organizadas” filas que muitas vezes terminam no nada.

Sob um sol escaldante, as filas ora disparam com crianças e senhores idosos tendo de correr, ora permanecem estanques durante um longo período. Não se pode esquecer que o torcedor deveria ser tratado como cliente-consumidor com todos os direitos inerentes a essa condição.

Conforto

Neste quesito, sem sombra de dúvida, somos os campeões. Nas partidas finais, como no domingo passado, são montados verdadeiros acampamentos dentro do campo. É barraquinha da imprensa, em tese a trabalho, e fios que não acabam mais. É necessário chegar quase três horas antes para assegurar um lugar.

Não existe uma programação, não existe espetáculo. O torcedor fica sem ter o que fazer. Não pode ir ao banheiro, senão corre o risco de perder o lugar. Mesmo nas cadeiras cativas não se consegue organização. Basta fazer o teste em uma final de campeonato, chegando quinze minutos antes a um lugar marcado. A desorganização é geral, com os torcedores sentados nos locais de passagem. E resta a pergunta: apelar a quem?

Higiene e saúde

As cercanias dos estádios são verdadeiras praças de alimentação a céu aberto. Os banheiros deveriam ser fiscalizados pela Secretaria da Saúde. Quem consegue utilizar os banheiros dos estádios? E por que ir a um local onde não se pode usar o banheiro?

Conclusão

Ronaldo tem toda a razão.

Facebook Comments
Advertisements