Da FOLHA DE SÃO PAULO

Por JUCA KFOURI

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Ser campeão não é prova de que tudo está indo às mil maravilhas como os times gostariam que fosse

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VALORIZAR DEMAIS o papel dos técnicos é um vício mundial e atire a primeira pedra quem já não embarcou nele. Porque, afinal, seja nos campos, seja nas quadras, são eles os que dão a palavra final, que fazem a escolha decisiva, que ganham junto ou perdem sozinhos. É comum, também, e aí bem mais grave, fazer de um título o habeas corpus para a gestão de um clube. Ou, ainda pior, dar diploma de competência porque ganhou-se um campeonato.

Não foram poucos os flamenguistas que ficaram bravos porque aqui se disse que o título do Botafogo faria melhor para o futebol brasileiro que o do Flamengo. E é óbvio que faria. Porque o novo modelo que o Botafogo experimenta precisava de um aval ou, ao menos, de um refresco, de calmaria.

E o novo tricampeonato do Flamengo não mudará nada na Gávea. Ao contrário, ele dará a falsa sensação de que o modelo do endividamento, da irresponsabilidade etc. e tal garante a hegemonia -seis dos últimos dez campeonatos estaduais foram vencidos pelo rubro-negro.

De maneira bem diferente, a hegemonia do Cruzeiro em Minas Gerais também passa por aí, porque o torcedor, feliz com as conquistas, não se dá conta de que o clube é muito melhor para os irmãos que o dirigem há séculos do que eles são para o clube, embora sejam incomparavelmente melhores que a média, ainda mais lá. O Internacional sim, parece cada vez mais um caso à parte no Rio Grande do Sul, com sua bem-sucedida iniciativa do sócio-torcedor para valer, com voz e voto.

Porque também em São Paulo o título corintiano não prova nada, basta dizer que o clube jamais ganhou tanto quanto nos tempos do cartola que dele foi expulso. Por ter dado no que deu.

E o atual presidente é o primeiro a reconhecer que não diminuiu, como prometera, a dívida colossal do clube, além de se cercar de gente nada recomendável, o que não reconhece, pois se conhece.

Daí a coluna depositar tanta esperança em experiências como a do Botafogo e a do Palmeiras, embora o segundo ande cada vez mais às voltas com o mundo real, extremamente poluído. Aliás, basta lembrar o pentacampeonato mundial da seleção brasileira para constatar que a vitória no campo não tem, necessariamente, correspondência na gestão.

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