Por CHICO ANYSIO

Este texto foi escrito há 6 anos e foi publicado em O Dia. No dia anterior, durante um jogo do Vasco, Eurico Miranda expulsara da Tribuna de Honra de São Januário Roberto Dinamite e seu filho de 10 anos. Achei que – agora que a Era Eurico parece estar perto do fim – ele merecia ser novamente publicado.

O ser humano é cheio de defeitos e fraquezas. Cometemos erros, pecados, geniais e mortais, indelicadezas, ignorâncias, imbecilidades… Mas o que de pior o ser humano comete, sua falha sem perdão, é a ingratidão. No modo popular de falar isso significa “cuspir no prato em que comeu”.

Roberto Dinamite é o maior jogador do Vasco da Gama em todos os tempos, incluindo Jaguaré, Fausto, Danilo Alvim, Barbosa, Ademir Menezes, Walter Marciano, Djalma, Lelé, Isaias, Jair, Chico, Pinga, Sabará, Bellini, Orlando, Vavá, Romário, Edmundo… É o maior artilheiro da história dos Campeonatos Brasileiros.

Roberto deu ao Vasco 617 gols na sua carreira, mais de seis centenas de alegrias e exemplos, honrando como ninguém jamais honrou, a camisa do clube. Este homem, este ídolo de várias gerações, de sucesso inigualável, foi desfeiteado, pisado, achincalhado, ofendido pela ingratidão envolta em deselegância e ignorância cometida pelo Presidente do C.R. Vasco da Gama, ex-gerente de uma concessionária de automóveis, seu Eurico Miranda. Eurico Miranda, que usou o Vasco para se fazer deputado e realizador do milagre de poder comprar casas de milhões de dólares em Angra dos Reis e na Flórida, mandou retirar da Tribuna de Honra de São Januário Roberto Dinamite e seu filho de dez anos, o que aumenta absurdamente a feiúra do gesto.

Roberto não sabe o que fez de errado para merecer este tratamento. Mas nós, vascaínos, sabemos: ele não tem dinheiro para segurar as dívidas do seu Eurico. Ao fazer o que fez com nosso maior ídolo, Eurico Miranda, do alto da sua prepotência e debaixo da sua barriga, desfeiteou a todos os torcedores do Vasco, aqueles que, por um equívoco, o elegeram deputado, coisa que jamais voltará a acontecer.

Eu me desculpo junto a você, Roberto. E peço que esqueça esta atitude espúria. O ódio de Eurico Miranda que, de tão grande, chega a te cobrir, é infinitamente menor do que o quase amor que todos nós, vascaínos, te temos. Perdôa, Roberto. Ele não sabe o que faz.

Originalmente publicado n´O DIA, em 22 de janeiro de 2002

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