Da FOLHA
Por ELIO GASPARI
A FAB e o Itamaraty mostraram que o Brasil funciona
Quem se lembra das trapalhadas ocorridas em 2020 para resgatar 34 brasileiros que estavam na China durante a pandemia de Covid e viu o resgate de centenas de pessoas que estavam em Israel em voos da Força Aérea pode perceber que o Brasil funciona.
Os aviões da FAB partiram para Israel e voltaram sem teatro. Poucos países conseguiram semelhante desempenho e nações vizinhas pediram ajuda ao governo brasileiro. Na quinta-feira, um dos aviões da Presidência da República entrou na operação.
A FAB e o Itamaraty funcionaram como um relógio, refletindo uma mudança ocorrida também no comportamento dos militares.
Em 2020, os brasileiros eram apenas 34. Num primeiro momento a operação foi descartada, por cara. Quando ela foi autorizada, deu-se o seguinte, nas palavras de Luiz Henrique Mandetta, o ministro da Saúde que seria abatido pela obsessão do presidente Bolsonaro com a cloroquina:
“A operação foi montada para trazer 34 pessoas, mas foram usados quatro aviões e 120 pessoas para resgatá-las, um exagero. Eu disse aos militares que era prudente enviar o menor número de pessoas possível, mas mandaram gente do Exército até para filmar o resgate.”
Num lance teatral, o resgate ganhou até um nome: “Regresso à Pátria Amada Brasil”.
Os diplomatas que organizaram o resgate dos brasileiros que estavam em Israel e os tripulantes dos aviões fizeram seus serviços sem teatro. A operação superou inúmeras dificuldades logísticas e seu sucesso não teve exibicionismos.
O serviço continua, com novos voos e com a delicada negociação para resgatar pelo menos 22 brasileiros que estão em Gaza. O Brasil funcionou, pela ação de seus servidores civis e militares.