Por dever de ofício sou obrigado a assistir, por vezes, entrevistas coletivas de cartolas que, em regra, decoram respostas ensaiadas previamente após simulações de possíveis perguntas realizadas com os assessores de imprensa.
O afamado ‘media-training’.
Esse chatice somente é possível porque os repórteres que cobrem os clubes de futebol são absolutamente previsíveis e raramente fogem da zona de conforto.
Alguns por medo; outros por estarem ‘acertados’ com cartolas, muitos orientados pelas redações a não polemizarem.
Nesse ambiente a vítima maior é a verdade.
É inconcebível, por exemplo, que após um ano e meio no poder, ninguém tenha questionado ao Presidente do Corinthians, que não recebe remuneração do clube e está com bens e contas bloqueados há mais de uma década de onde retira seu sustento.
Somente um jornalista, que não participa de coletiva, teve, ao lado do Blog do Paulinho, coragem de fazê-lo, em suas colunas e podcasts: Juca Kfouri.
Os demais, até à distância, seguem calados.
Ontem, a entrevista foi com dois dirigentes de futebol do Timão, um deles, Roberto Andrade, recém indiciado criminalmente – tornado réu pela Justiça, sob acusação de roubar a empresa em que trabalhava.
R$ 1,5 milhão seria o desfalque.
Foram 38 minutos de conversa fiada e respostas evasivas, todas decoradas e facilitadas pelas ‘escadas’ da mídia.
Ninguém teve coragem de perguntar, ainda que não se aprofundasse no assunto, se o principal cartola do Corinthians depois do presidente teria algo a declarar a respeito de um tema absolutamente relevante e necessário ao conhecimento do torcedor.
Afinal, como manter em cargo de confiança, com a responsabilidade de direcionar o maior orçamento de Parque São Jorge, alguém acusado de subtrair quantia do local em que trabalhava?
O leitor, com toda razão, deve estar pensando: por que você não vai lá e pergunta?
Respondemos: o Corinthians nega credenciamento ao Blog do Paulinho e nenhum de seus cartolas, todos convidados, alguns publicamente, aceitou ser entrevistado.