Por ROBERTO VIEIRA

ERA o país da gasolina azul.

O país do ame-o ou deixe-o.

Embora não houvesse divórcio.

Os homens podiam tudo e as mulheres podiam ser miss, escrava do lar ou a outra.

Éramos todos católicos.

Éramos todos crentes em Deus.

O carnaval era um Deus nos acuda.

O pavor da família brasileira.

Terra de corsos.

Não havia assaltos, porém havia expropriações.

A Bolsa pipocava num milagre.

O bolo aumentava.

Não havia desemprego.

Também não havia liberdade de imprensa.

Noventa milhões em ação e pra frente Brasil era o hino.

As escolas marchavam no 7 de setembro.

As torturas dos presos comuns se tornaram torturas dos presos políticos.

Como no Estado Novo.

Havia rezadeiras, parteiras e cadeiras do dragão e do papai.

Uma geração de músicos fazia música de protesto.

Outra geração de músicos cantava meu limão meu limoeiro.

A maioria das pessoas acreditava que seríamos uma superpotência em 2020.

Muita gente não acreditava no homem na Lua.

Os Beatles tinham dito adeus.

Roberto Carlos já era o Rei.

Carlos Alberto ergueu a Taça.

E a seleção foi recebida com festa em Brasília.

Cinquenta tons e anos de cinza depois.

O Brasil continua lindo.

Mas a ingenuidade se foi.

A miséria aumentou e o analfabetismo diminuiu.

Não pedimos mais bênção, papai e mamãe!

Pedimos bênção ao miliciano, ao crack e ao Whatsapp.

Temos dois papas.

Cinco Copas e cinquenta mil mortos na pandemia.

Sessenta mil morrem assassinados por ano.

Elegemos presidente e governadores e a corrupção é generalizada.

Talvez como sempre.

Talvez como nunca.

21 de junho de 70.

Brasil está vazio na tarde de domingo.

21 de junho de 2020.

Brasil devia estar vazio na tarde de domingo.

Pelé vive, velhinho.

Tostão, Gerson e Rivelino também.

Terça à noite tem S. João.

Os professores eram profissionais respeitados em 70.

Hoje tem ensino à distância.

O que era Mobral hoje é aplicativo.

Pizza, McDonalds e ifood se tornaram ceia nacional.

Eu posso dizer solenemente.

21 de junho de 70 foi o dia mais feliz em nossos 520 anos de história.

Éramos felizes e não sabíamos.

Porque só é verdadeiramente feliz quem não sabe.

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