“Não se assustem então se alguém pedir o AI-5”
Dizendo estar falando ‘em off’ para jornalistas (quando existe o compromisso de não publicação entre as partes), apesar de tratar-se de uma entrevista oficial, convocada pelo próprio Ministério da Economia, e que já estava sendo transmitida ao vivo por alguns jornalistas (tornando, por razões obvias, impossível qualquer acordo de sigilo), o Ministro Paulo Guedes deixou bem claras as intenções do Governo Bolsonaro se a população demonstrar, em protestos, sua indignação contra as evidentes perdas de direitos sociais ocasionadas pelas recentes medidas econômicas, fiscais e previdenciárias aprovadas ou em vias de serem sacramentadas:
“Sejam responsáveis, pratiquem a democracia. Ou democracia é só quando o seu lado ganha? Quando o outro lado ganha, com dez meses você já chama todo mundo para quebrar a rua? Que responsabilidade é essa? Não se assustem então se alguém pedir o AI-5. Já não aconteceu uma vez? Ou foi diferente? Levando o povo para a rua para quebrar tudo. Isso é estúpido, é burro, não está à altura da nossa tradição democrática.”
Minutos após, ao perceber que havia revelado demais, Guedes tentou minimizar, mas aí já era tarde.
O mesmo aconteceu com um dos filhos do Presidente, que teve coragem de falar desatino semelhante, mas, diante da repercussão, recuou covardemente.
É exatamente dessa covardia que todos nós precisamos nos precaver.
A tentativa de Bolsonaro ao aprovar o ‘excludente de ilicitude’, proporcionando aos órgãos de repressão verdadeira autorização para matar, nada tem a ver, como quer deixar a entender, com o combate a criminosos, mas sim com a necessidade do Governo em conter o direito de quem se mostrará, inevitavelmente, contrário a seus desmandos.
Obstruir manifestações populares ou até eliminar parte desse povo antes que derrubem seus carrascos é o que justifica a pressa pela aprovação.
O excludente de ilicitude nada mais é do que uma lei de proteção aos covardes, talvez o penúltimo passo antes da radicalização total, nitidamente desejada pelos que não parecem ter objetivo de largar o poder.
Para evitar essa situação, a população, além de tomar as ruas (o maior temor dessa gente), precisa cobrar deputados e senadores sobre o compromisso com a democracia, que precisará ser demonstrado, na prática, nas votações e discussões que estão por vir.
Além disso, se faz necessário urgente posicionamento da Forças Armadas, para que saibamos se aprovariam e, principalmente, dariam suporte a qualquer iniciativa semelhante ao deplorável AI-5.
Silenciar, em momento tão grave, é responder que sim.
O Brasil precisa saber se os militares servem à nação ou a um bando de milicianos com objetivos claros e bem definidos de imposição do poder à margem da democracia.