Depois do cargo de diretor de futebol profissional, as categorias de base de um clube do porte do Corinthians são o objetivo maior daqueles que almejam sobreviver à custa de golpes e esquemas, quase sempre com a participação da gestão.

Seja permitindo ou embolsando.

Nos recentes casos denunciados, o último, ontem, publicado pelo Globo Esporte, com direito a áudio de malandro pedindo suborno para pai de jogador, dizendo que “diretores sempre ganham”, e que precisava “agradar” as “comissões técnicas”, repetem-se nomes e procedimentos há anos conhecidos do leitor deste blog.

http://globoesporte.globo.com/futebol/times/corinthians/noticia/gravacao-mostra-negociacao-de-suborno-na-base-do-corinthians-ouca-os-dialogos.ghtml?

Fica nítida, no caso do Corinthians, a parceria com a diretoria do clube.

Somente nos últimos dez anos, período em que o grupo de Andres Sanches ocupou o poder, tivemos os seguintes gestores da base: o desembargador Miguel Marques e Silva, o dono de estacionamentos Fernando Alba, o advogado Fausto Bittar e agora o bicheiro Jaça, em parceria com Nei Nujud, sócio do presidente Roberto Andrade no ramo de automóveis, entre outras particularidades.

Marques deixou o comando da base acusando, sem citar nomes, grupos de pessoas que faziam negócios no departamento, insinuando, claramente, em conversa com o Blog do Paulinho, e veladamente ao CBN Esporte Clube, de Juca Kfouri, que até o comentarista Neto, à época aliado de Andres Sanches, levaria vantagem no setor.

Porém, na gestão do jurista, o auto-intitulado ex-bicheiro André Negão, era uma espécie de “gestor informal” do setor, mesmo sem cargo oficial à época, fechando negócios e até viajando ao exterior com a molecada.

Miguel alega não ter presenciado os negócios, mas não tem como desmentir as viagens.

Com Fernando Alba a farra acentuou-se.

Todos os nomes citados na matéria de ontem, do Globo Esporte, chegaram ao clube, e se instalaram nas negociatas, no período de sua gestão, responsável por iniciar a “farra de empresários”, que levaram o Corinthians a fatiar percentuais de jovens promessas antes mesmo que estes pudessem sonhar em jogar na equipe principal.

Foi com Alba, também, que o Timão inventou uma parceria com o Flamengo de Guarulhos, que, em verdade, tratava-se de local para desova de atletas sem condições de atuar em equipes importantes, mas que mantinham contrato com o Corinthians, com objetivo de “esquentar” currículo e favorecer agentes ligados a conselheiros, além de empregar, tanto na base alvinegra quando no “terceirizado”, integrantes do movimento “Fora Dualib”, quitando dívida eleitoral de Andres Sanches.

Hoje Alba negocia, embora negue, jogadores por intermédio de terceiros.

Em sequência veio o advogado Faustinho, que não se constrangeu em manter o “sistema”, nem em negar, ao Globo Esporte, saber de “qualquer negociata na base”, apesar de sempre andar a tiracolo com André Campoy, preposto notório de conselheiros alvinegros.

Por fim, em acerto para impedir a queda do presidente, Andrés Sanches tratou de escancarar o que já era reinante com Fausto Bittar, obrigando Roberto Andrade a empossar o bicheiro Jaça, o esperto Nei Nujud, e o “ex-lava-Jato” Nenê do Posto (foi mandado embora do grupo), que dizia não poder aceitar cargo sem remuneração, quando convidado ao futebol profissional, mas “mudou de idéia” ao perceber as possibilidades desta nova diretoria.

Com eles foram alocados, sem constrangimento, empresários de futebol em cargos de chefia, que permanecem até os dias atuais.

Entre os conselheiros citados como aliciadores de atletas da base, é frequente a repetição do nome de Manoel Ramos Evangelista, o Mané da Carne.

Mas não é o único.

Ontem, em conversa com o Blog do Paulinho, Mané disse que, em relação à matéria do Globo Esporte, o pai do garoto que foi achacado por preposto do treinador da equipe sub-17 alvinegra, de fato, o procurou, no Rio de Janeiro (diz ainda que Andres Sanches estava ao seu lado), mas apenas ajudou-o, sem cobrar nada por isso.

O caso deverá ser esclarecido em breve, por conta de dois inquéritos policiais em trâmite (um deles com quebra de sigilo), e com provável acareação entre o conselheiro e o comentarista Neto, que se acusam, mutuamente, de “interferir” na base.

Disse Mané: “Estou tentando ir ao programa do Neto, mas a BAND não está permitindo… disse que somente com decisão judicial… esta semana minha advogada conseguirá”.

No Conselho de Ética do Corinthians, sob comando do Dr. Sérgio Alvarenga, espécie de “engavetador geral” das denúncias que possam complicar Andres Sanches no Corinthians, a absolvição foi sumária.

Desde os tempos da gestão Alberto Dualib, que a base do Corinthians, à época sob poder do vice, Nesi Curi, é comandada pela mesmas pessoas que hoje fazem parte do grupo “Renovação e Transparência”.

No início dos anos 2000, Mané da Carne, André Negão, Andres Sanches, Jaça e Wando Moraes davam as cartas no setor.

Destes, somente Wando caiu em desgraça, acusado de pedofilia.

Não há, nem existiram, nos últimos anos, inocentes nas categorias de base do Corinthians.

Quem não roubou, viu roubar, e se calou.

Haverá, obviamente, sempre os que se defenderão: “Eu não sabia… não presenciei nada…”

Mas, convenhamos, existe culpa também na incompetência.

A administração da base do Corinthians  é um círculo vicioso de achaques e corrupções diversas que já dura duas décadas (sempre gerenciado pelos mesmos) que precisa, para o bem do clube, e também do futebol brasileiro – porque servirá de exemplo, não apena ser combatido, mas, com mão de ferro, eliminado.

OUTRO LADO

Resposta de Miguel Marques e Silva

Boa noite, Paulo. Vi hoje uma publicação sua no seu Blog, que eu teria em conversa com você e veladamente com o Kfouri, insinuado que o Neto na minha época de diretor da Base no Corinthians levava vantagem no setor. Eu nunca afirmei isso, eu disse que teria ouvido comentários que o Neto teria feito críticas a um determinado técnico porque teria este dispensado um jogador que ele indicara. Eu não disse que ouvi isso, reafirmo que eu teria ouvido comentários. Aliás, isso nunca ficou comprovado. Também desconhecia e desconheço que o Sr. Andre Luiz, vulgo “Andre Negão”, fechou negócios no mesmo setor. E ele viajou uma vez na minha época ao exterior, para Angola, em delegação que eu chefiei, conforme na época afirmei em entrevista a você. Ele foi colocado na delegação pelo presidente do clube. Todas as despesas da viagem foram bancadas pelo patrocinador de Angola, Banco Santos, assim como o cachê pelas três partidas la disputadas pela nossa equipe “profissional B”, que existia naquela época.

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