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Ex-vice de Finanças nas gestões Andres Sanches e Mario Gobbi, no Corinthians, o dono da BDO/RCS, Raul Corrêa da Silva, é a assinatura mais presente nos contratos do estádio de Itaquera, todos absolutamente favoráveis aos interesses da Odebrecht.

Através de sua anuência, em conjunto com as dos ex-presidentes, Andrés Sanches e Mario Gobbi, e do atual Roberto Andrade (que também rubricou alguns junto com Raul), o valor da Arena, que partiu de R$ 335 milhões passou à R$ 820 milhões, depois R$ 985 milhões até finalizar (sem contar os juros, empréstimos, etc) em R$ 1.213.773.000,00.

Investigação da Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, tem apontado como recebedores de “agrados” do negócio, em troca da assinatura de aditivos para elevar o preço da obra, o deputado federal Andres Sanches (PT) e seu braço direito, André Negão, intermediário, segundo delatores, dos pagamentos, que, para não deixar rastros, era efetuado em dinheiro vivo.

Outros inquéritos, dentro da mesma investigação, apontam que a Odebrecht, para dissimular pagamento de dinheiro àqueles que com ela colaboraram, tem por hábito a formalização doutros negócios (que podem ser verdadeiros ou fictícios), dentro dos quais efetuaria os devidos repasses.

Vamos aos fatos.

Raul Corrêa da Silva assinou seus últimos dois contratos como diretor de finanças do Corinthians no dia 05 de fevereiro de 2015 (dois dias antes das eleições que elevaram ao poder o atual gestor, Roberto “da Nova” Andrade).

Tratavam-se de dois aditivos do estádio, em favor dos interesses da Odebrecht.

Um deles, questionável, por ter sido assinado (segundo Corrêa, por engano), como se fora dirigente da Jequitibá Patrimonial (empresa ligada à construtora), o outro, no campo correspondente aos responsáveis pelo Corinthians:

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Em 03 de junho de 2015, por intermédio da BDO/RCS, o contador Raul Corrêa fechou contrato com a CONCÓRDIA S/A –  Corretora de Valores Mobiliários, Câmbio e Commodities, responsável pela operação de alguns dos principais investimentos da ODEBRECHT no mercado financeiro .

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Um destes Fundos, criados pela Odebrecht, é o FIDC – FORNECEDORES ODEBRECHT, que tem, segundo a CVM (Comissão de Valores Mobiliários), Ricardo Augusto Leão Martins (dono da Concórdia), assinando como diretor responsável:

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Abaixo, página oficial da Odebrecht (comprovando tratar-se de uma iniciativa da construtora), apresenta o Fundo com as seguintes definições:

“A Odebrecht, visando estreitar o relacionamento com seus fornecedores, lançou o FIDC – FORNECEDORES ODEBRECHT”

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O regulamento do Fundo especifica que somente fornecedores do próprio grupo, ou seja, de propriedade da Odebrecht, poderão fazer parte do negócio:

“(condições) que o Fundo fosse destinado exclusivamente a um único investidor, a investidores pertencentes ao mesmo conglomerado, ou grupo econômico financeiro ou a investidores qualificados”.

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Clique no link abaixo para ter acesso à lista de investidores, todos ligados à ODEBRECHT:

listasacadosodebrecht

Dentro desse contexto, Ata do dia  01 de julho de 2016, indica a contratação de Raul Corrêa da Silva, por intermédio da BDO/RCS, pelo Fundo FIDC – Fornecedores Odebrecht, de propriedade da referida construtora, em reunião realizada na sede da corretora Concórdia (da qual, não por acaso, o ex-diretor de finanças do Corinthians também era contratado):

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Abaixo a cópia (na íntegra) da Ata:

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Fontes da BDO/RCS garantiram ao blog que Raul Corrêa da Silva teria recebido R$ 5 milhões pelo “serviço”, valor considerado bem acima do cobrado pelo mercado, próximo, por exemplo, das faturas de auditorias independentes de instituições bancárias relevantes, por razões óbvias, mais trabalhosas.

O eventual sobrepreço, se confirmado, seria espécie de “agrado” da ODEBRECHT por conta da atuação do proprietário da BDO/RCS enquanto dirigente do Corinthians.

Outro fato curioso, é que o FUNDO, apenas quatro meses após contratar a BDO/RCS, em 24 de novembro de 2016, emitiu “termo de encerramento em decorrência do resgate total das cotas do FUNDO, ocorrido em 22 de novembro de 2016”.

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Somente há pouco mais de um mês atrás, em 11 de janeiro de 2017 (com o FIDC – FORNECEDORES ODEBRECHT já extinto), Raul Corrêa da Silva concluiu seu relatório de auditoria (assinado por funcionários), contratado pela Odebrecht, sem indicar, porém, os valores devidos à BDO/RCS (nem se foram pagos), mas inserindo o comunicado de liquidação do FUNDO.

bdo-odebrecht-2017

Os procedimentos descritos nesta matéria, pelos quais o diretor de finanças do Corinthians, envolvido diretamente na facilitação de contratos do clube que beneficiaram, nitidamente, a Odebrecht, é contratado por duas empresas, sendo uma delas, comprovadamente, de propriedade da construtora (Fundo), a outra, gestora de seus recursos (a Concórdia), escancara procedimentos incompatíveis com a ética e a moralidade esperadas por quem atua no ramo de auditoria independente.

Fica claro, também, que os “agrados” da Odebrecht a dirigentes do Timão, em troca de aditivos que elevaram o preço do estádio, podem não ter se limitado às figuras de Andres Sanches e André Negão, razão pela qual se faz absolutamente necessária a atenção da Polícia Federal para os outros possíveis envolvidos, direta ou indiretamente no negócio, até porque, convenhamos, é pouco crível que os fornecimentos de vantagens não tenham atingido a todos que assinaram os contratos.

Vale sempre a pena lembrar que as contas de Raul Corrêa da Silva no Corinthians (tratadas como “maquiadas” pelo atual diretor de finanças, Emerson Piovesan) levaram-no a ser indiciado três vezes no STF por crimes fiscais, ao lado dos dirigentes Andres Sanches, André Negão e Roberto “da Nova” Andrade.

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