Desde a fundação, em 1º de setembro de 1910, o Corinthians se viu em meio a batalhas (à época de operários contra patrões, no futebol) que somente com muita força e coragem poderiam ser superadas.
Quatro anos depois, ainda se estruturando, já tinha em sua acanhada sala um troféu de Campeão Paulista.
Êxitos que se repetiram, e foram ampliados, nos anos seguintes, mesmo em meio a dificuldades, por vezes mais pela grandeza adquirida em meio à uma legião de fãs, seguidores e colaboradores, do que propriamente por estar sendo gerido de maneira adequada.
Situação que serve para explicar muito do que ocorreu no Parque São Jorge nos últimos oito anos.
O balanço divulgado pelo Corinthians, na última semana, esconde do associado, torcedor e conselheiro (em mais uma maquiagem do ex-diretor financeiro) a real situação proporcionada por quase uma década de pilhagens (grandes e pequenas) no caixa alvinegro.
A dívida, apresentada como pouco mais de R$ 300 milhões, é, na verdade, acima de R$ 500 milhões, aos que serão acrescidos, ainda, R$ 347 milhões (condenação por não pagamento de impostos no CARF – não inserida no balanço, apesar de julgada em 2014), sem contar os juros que se acumulam, cada vez mais, em empréstimos para pagar outros empréstimos, já tomados anteriormente, seja pela dívida do estádio (R$ 1,2 bilhão) ou as absurdas despesas proporcionadas pelo ‘esquema” para beneficiar empresários e dirigentes, no departamento de futebol (este mês, mais R$ 50 milhões devem ser emprestados para quitar dívidas atrasadas).
É, de fato, um caos.
Há ainda as pendências trabalhistas, mascaradas por uma separação de contingência no balanço na casa dos R$ 8,1 milhões (que já seria um absurdo), mas que leva em consideração apenas casos já julgados, em recurso, não os que ainda estão por estourar, ou já surgiram, porém ainda sem avaliação precisa de valores, que devem elevar a despesa, no mínimo, ao triplo do apresentado aos conselheiros.
Ou seja, apesar de, dentro de campo, as últimas gestões (Sanches e Gobbi), como ocorreram com quase todas as outras, terem ganhado títulos importantes, jogaram as finanças do clube à bancarrota.
Na prática, investiram o que não podiam, no intuíto de vencer torneios, rapidamente, com dinheiro de terceiros (bancos, empresários, etc.), pensando mais no reflexo político dos resultados, do que em gerir o clube com responsabilidade, criando um alicerce financeiro seguro, para colher, no futuro, resultados mais frequentes, e consistentes.
Sobrou agora, nas mãos de Roberto “da Nova” Andrade – que ajudou a estabelecer a difícil situação financeira atual, indiciado que foi, ao lado de Andres Sanches, André Negão e Raul Corrêa da Silva por crimes fiscais diversos – com a ajuda de uma nova visão financeira, do oposicionista Emerson Piovesan (a quem o grupo atual achincalhou na gestão Dualib) a missão de tentar evitar o desastre, ou, ao menos, minimizar, como puder, as besteiras cometidas.
Trabalho dificílimo, que conta ainda com a dificuldade, óbvia, de cercear muitos dos que se refastelaram na pilhagem de oito anos ao cofres do Corinthians.
Para sobreviver aos próximos anos, sem a entrada de dinheiro do futebol (resguardada para pagar o estádio), com as cotas de tv e patrocínio adiantadas, além de diversos empréstimos tomados, que aliviam num primeiro instante, mas aprofundam o desespero em parcelas desconformes com a arrecadação, o Corinthians terá que mudar.