Por JOSÉ RENATO SATIRO SANTIAGO
A tranquilidade, algo marcante nos baianos, certamente passou bem longe de um deles, Jorge Augusto de Aragão, o Beijoca.
O apelido veio por conta de uma boneca da sua irmã que tinha este nome.
Começou no futebol batendo bola nos campos do tricolor da “Boa Terra” ainda no final dos anos 1960.
Ainda com 16 anos, fez parte do elenco da equipe que conquistou o estadual de 1970.
Sem espaço e já com certa propensão a problemas, foi emprestado.
Ao final de cada ano, voltava ao Bahia e era informado que não teria oportunidade de ficar na equipe.
Esta rotina aconteceu até o começo de 1975, quando resolveram testá-lo na equipe que buscava o tricampeonato estadual.
Beijoca não só ficou, bem como foi um dos grandes responsáveis por aquela conquista.
Não acostumado a se dedicar aos treinos, sempre teve uma vida boemia.
Costumava sair dos bares de Salvador diretamente para o jogo, independentemente da importância da partida.
Foi o que aconteceu justamente no dia da final do estadual de 1976, frente o maior rival, o Vitoria.
Após a primeira partida da final vencida por 2 a 1 pelos tricolores, com um gol de Beijoca, Orlando Fantoni, o técnico tricolor resolveu concentrar os jogadores.
Não encontrou Beijoca, que tinha sido visto pela ultima vez, apenas no vestiário após a partida.
Mandou alguns de seus assessores procurarem o atacante na região boemia da cidade.
Beijoca foi encontrado totalmente embriagado por volta das 4:00 em condições que beiravam a de um coma alcóolico.
Descartado para a final, coube aos atletas o carregarem para a cama.
Um pouco depois do almoço, do dia do jogo, eis que ele se juntou ao elenco.
Já de banho tomado e com forte cheiro de álcool, foi informado que não jogaria.
De imediato ele se levantou e apontando o dedo para Fantoni afirmou: “Vou jogar e marcar o gol da vitória.”
Os dirigentes alertaram que aquela seria a última partida dele com as cores do Bahia.
Pegou a camisa 9 vestiu e se dirigiu ao ônibus, e já que seria sua última partida, levou umas garrafas de cerveja com ele.
Pois bem, em 22 de agosto de 1976, o Bahia conquistou o tetracampeonato baiano ao vencer por 1 a 0 o Vitória com um gol de Beijoca, de peixinho.
Virou Mito.
Trombador, sem preparo físico de atleta, gordo, com graves problemas de alcoolismo, mas fazedor de gol.
Foi o maior artilheiro da equipe nas conquistas estaduais dos anos seguintes, 1977 e 1978.
Já com fama nacional foi contratado pelo Flamengo.
O inicio das negociações entre rubro-negros e tricolores começaram envolvendo um novo problema envolvendo o artilheiro.
Durante uma noite de farra, Beijoca tinha sido preso em uma “casa de conveniência”.
Por conta disso, sua chegada a equipe carioca foi adiada.
Ele acabou se unindo ao grupo já no avião que iria levar a equipe à Espanha, para a disputa do Torneio Ramon de Carranza.
No avião, resolveu beber algo para relaxar… resultado, apalpou uma aeromoça.
Coube ao comandante do avião exigir sua retratação, caso contrário, iria denunciar toda a delegação rubro-negra a polícia espanhola.
Desculpas dadas, foi possível o desembarque do Flamengo sem maiores problemas.
Sua estreia com a camisa rubro-negra, não poderia ter sido melhor.
Em 25 de agosto de 1979 na vitória por 2 a 1 frente o grande Barcelona, quem diria?
O fim da aventura de Beijoca no Rio de Janeiro aconteceu na partida frente ao Palmeiras no Maracanã, no dia 9 de dezembro, válida pelas quartas de finais do campeonato brasileiro daquele ano, e vencida por 4 a 1 pela equipe paulista do técnico Tele Santana, em uma das maiores atuações de uma equipe sob seu comando.
Beijoca entrou em campo e em pouco mais de um minuto, largou uma cotovelada no meia campista Mococa e deu um soco no atacante Baroninho, sendo expulso em seguida.
Jamais voltou a vestir a camisa do Mengão.
Depois disso, voltou a defender as cores de mais de 10 equipes, sendo campeão aqui e ali, sempre marcando gol e criando confusão.
Parou de jogar futebol em 1990 e depois de algum tempo, deixou de lado também a bebida ao ser tornar evangélico.
Beijoca foi o que muitos jogadores são hoje.