tite estatua

Hoje, em brilhante texto, publicado no Estadão. o jornalista Paulo Calçade definiu bem o legado e a história de Tite no Corinthians.

Em síntese, tudo se resume numa palavra: caráter !

Essa, sem dúvida, é a principal marca e lembrança deixada pelo treinador em sua passagem pelo clube.

Pode-se reclamar do que quiser durante seu período de comando, mas nunca de deslealdade ou submissão aos desmandos que, todos sabemos, existem nos bastidores do futebol.

Apesar disso – e dos tantos títulos conquistados – Tite agradava jogadores, torcedores, mas nunca o corpo diretivo do clube, acostumado com hábitos que o treinador – por caráter – abominava.

Não é a toa, como bem disse Calçade, que mais de 35 mil corinthianos, agradecidos, compareceram ao Pacaembu com o único objetivo de exaltá-lo, gratos pelos anos de conquistas, e honestidade, raros, no meio do futebol.

Acrescento apenas dois episódios, um deles que o jornalista não reparou, outro que, talvez, tenha esquecido, que ilustram ainda mais a grandeza do treinador em sua passagem pelo Timão.

Em todas as homenagens prestadas a Tite, seja nos bastidores ou até no gramado, esteve ausente a figura do presidente do clube, Mario Gobbi, não por acaso o responsável por trazer Mano Menezes, às suas costas.

Por fim, uma lembrança que jamais deve ser esquecida, e que, certamente, foi um dos fatores motivadores para que o treinador atingisse tanto sucesso em sua segunda passagem pelo clube.

Aquela noite, em 2005, ainda na primeira passagem, quando o “dono” do clube, à época, Kia Joorabchian invadiu os vestiários da equipe, ao lado de Andres Sanches, então vice de futebol, e ambos foram expulsos pelo treinador, preservando assim seu comando e honradez perante o grupo de atletas.

Caráter !

Desde sempre foi a marca de Tite, no Corinthians.

CONFIRA ABAIXO O TEXTO DE PAULO CALÇADE, CITADO EM NOSSA MATÉRIA

Caráter – o legado de Tite
Por PAULO CALÇADE 

O futebol é rude demais para valorizar o humano. Não fossem os números, as vitórias e os resultados, ninguém teria chorado na despedida de Tite. Não precisamos nos iludir com isso. O lado bom, entretanto, é que em três anos de convivência, o treinador ajudou a dar tudo o que o corintiano sofredor de 1977 não teria coragem de pedir. Hoje é possível dizer que, respeitadas as épocas e as diferenças, ele é o maior treinador da história do clube.

Quando for preciso fazer um balanço e apontar o legado de Adenor Leonardo Bachi em sua segunda passagem pelo Corinthians, será fundamental dizer que os 73% de aproveitamento dos pontos disputados foram ótimos, que as 66 vitórias jamais serão esquecidas e que as conquistas do Brasileiro, da Libertadores e do Mundial formam a sequência perfeita.

Mesmo assim é pouco, não explica o significado desses três anos, não oferece a dimensão correta do que foi esse período. O que levaria, então, 35.033 torcedores ao Pacaembu num sábado à noite? Certamente não foi para comemorar a classificação no meio da tabela nem para curtir mais um provável 0 a 0. Foi para ver Tite, ainda responsável pela equipe e pelo 17º. empate no Campeonato Brasileiro.

O estádio lotou para dar adeus, para dizer que os problemas e a apatia ofensiva não eram, naquela noite, tão importantes, e que um dia Tite vai voltar. O Pacaembu, que breve terá que se despedir dele mesmo, dele Pacaembu corintiano, quando o time se mudar para Itaquera, lotou desta vez para reconhecer o caráter desse homem.

No futuro, quando for preciso apontar o legado do treinador no Corinthians, será justo, antes de citar os títulos, lembrar do seu caráter, de sua dignidade e de como a vida fluiu sob o seu comando num clube acostumado à cultura do sofrimento. Não foi fácil, por que no futebol as coisas apenas parecem fáceis. Mas foi diferente.

Vai ser difícil esquecê-lo, principalmente quando alertava que a Libertadores deveria vir embrulhada por um clima de paz e de merecimento. Vencer a qualquer custo não lhe interessava, embora ironicamente tenha sido desclassificado em 2013 pelo apito de Carlos Amarilla. Já não havia no time a mesma sintonia, mas era possível ir mais longe.

O Paulista e a Recopa Sul-americana não foram suficientes para mantê-lo no cargo na temporada que se encerra. Três anos no comando da mesma equipe é uma eternidade no futebol, seja para Tite ou Guardiola. E assim começa uma nova história.

É provável que a geração da fila, dos 23 terríveis anos de expectativa veja Oswaldo Brandão à frente de Tite na galeria dos treinadores corintianos. O homem que libertou toda uma nação do sofrimento e da chacota merece um lugar especial no altar do corintianismo.

Só mesmo quem suportou a espera para saber o significado dos títulos paulista de 1977 e da Libertadores de 2012. Eles representam momentos únicos na vida e na alma da instituição. Mas não é possível compará-los. Embora toda vitória aparentemente possua a mesma raiz, delas brotaram Corinthians diferentes.

Nada as une, apesar da camisa alvinegra. O campeonato estadual, importante naquela época, não encerrou o sofrimento, apenas reforçou a percepção de que tudo tem que ser difícil, improvisado e contestado. Já a competição sul-americana introjetou na carcaça corintiana a informação de que pode ser diferente.

A partida contra o Internacional abraçou também outra despedida, a do lateral Alessandro, que chegou para jogar a Segunda Divisão e para ser o capitão do maior título da história corintiana. Fisicamente não dá mais, é o fim da linha.

A trajetória do jogador no clube também foi marcada pelo caráter. Líder discreto, Alessandro encerra a carreira dentro de campo, mas dificilmente ficará longe do Corinthians, que a partir do ano que vem voltará a ser dirigido por Mano Menezes, bastante responsável pela mudança de rumo a partir de 2008. É o fim e o começo.

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