Por JAIR PEDRO

Se for ao Canindé assistir um jogo torcendo pelo visitante, não leve sua esposa, filha ou neta.

Explico:

No sábado, ao chegar com minha família no Canindé, na entrada uma policial feminina alertou minha esposa que havia excesso de lotação e que seria bom não entrarmos com as crianças ou ficarmos com as crianças próximos às saídas.

Entramos, e de fato, não foi possível à minha esposa e as crianças assistirem o jogo.

Ficamos por ali, nas escadas depois de ir de um lado à outro em busca de algum ponto que pudéssemos assistir a partida.

Pra piorar, como se não bastasse termos pago o ingresso e não conseguirmos assistir a partida, minha filha de 6 anos pediu pra ir ao banheiro e ai começa a parte surreal.

Um fiscal de federação paulista de futebol disse que banheiro feminino só tinha do outro lado. E me aconselhou a levar a menina no banheiro masculino mesmo. Inaceitável! E incabível de ser sugerido por um representante da federação paulista.

Mas até ai, eu estava achando que “outro lado” significava o lado oposto da arquibancada. Coloquei a menina no ombro e fui abrindo caminho e pedindo licença até chegar no extremo oposto, sem ver qualquer banheiro nesse caminho.

Ao chegar ao ultimo portão, fim da linha, e sem ter achado banheiro para a menina, perguntei a um vendedor que por ali estava onde era o sanitário.

E recebi a mesma resposta: banheiro feminino só do outro lado.

Expliquei que eu já tinha vindo do “outro lado”.

Ele esclareceu que o “outro lado” era o lado da torcida da lusa.

Pensei que fosse algum tipo de brincadeira. Mas várias mocinhas que estava por alí confirmaram, indignadas, que não tinha banheiro para elas.

Saí de lá p…. da vida (desculpe a expressão) entrando de novo no mar de gente, pedindo licença e abrindo caminho até chegar ao outro portão, onde vários fiscais da federação cuidavam das catracas. Desci as escadas e confesso que estava com vontade de brigar com alguém, mas mantive a educação que me ensinaram em casa.

Perguntei pausadamente onde é que ficava o banheiro feminino. O fiscal, visivelmente constrangido, principalmente por ver que minha expressão era de alguém que estava no limite da paciência informou que não tinha banheiro feminino no setor de visitantes.

-E o que é que eu faço com minha filha? Perguntei pausadamente.

Ele então me recomendou levá-la à um canto do estacionamento, atrás do ônibus do batalhão do choque e que quando eu voltasse ele liberaria minha entrada, já que eu teria que sair pra fora do perímetro das catracas.

Perguntei então, pausadamente, pra manter meu auto-controle, como é que a federação liberava um jogo num lugar que não tinha sanitários femininos. Ele não sabia.

Como não havia a menor possibilidade da menina agüentar se segurar por mais de 45 minutos e sei lá mais quanto tempo até achar um sanitário na marginal Tietê, tive de aceitar a sugestão, e , constrangido, levar a menina para fazer xixi atrás do ônibus da polícia de choque.

Pergunto como isso é possível.

Sei da incompetência crônica dos cartolas da FPF, mas como liberam o jogo num lugar sem infra-estrutura básica? E como a policia concorda?

Creio ser essa uma daquelas decisões tomadas sob por pressão.

Se não autorizasse o jogo no Canindé, os arautos das conspirações ergueriam suas vozes denunciando tentativa de favorecer o São Paulo. Concordo que mudar o local do jogo poderia prejudicar a equipe lusa, mas porquê, pelo menos, não instalaram banheiro químicos ? Seria o mínimo do mínimo.

Se um estádio não tem condições de receber o espetáculo, que mandem o jogo para outra cidade, outro estado se necessário.

Digo mais : Ou foi vendido mais ingressos do que o anunciado, ou a capacidade do lugar onde ficou a torcida do São Paulo não tinha capacidade para dez mil torcedores. Se tivesse acontecido algum tumulto, teria havido uma tragédia pois tinha gente demais e portões de acesso fechados.

Saí do estádio feliz pela vitória do meu time, mas triste como cidadão.

Pra concluir, quero deixar claro que adoro a Portuguesa e torço pra que ela consiga se manter na primeira divisão.

E pra deixar mais claro, considero serem uns canalhas as pessoas que obrigam menininhas de seis anos ao constrangimento de fazer xixi em público e incompetentes as autoridades que aprovam um espetáculo num local sem condições de sediá-lo.

 

JAIR PEDRO é leitor do blog e torcedor do São Paulo.

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