Nanda Superstar

De O GLOBO

Por NELSON MOTTA

Fernanda Torres e Walter Salles estão fazendo pelo Brasil o que raros brasileiros fazem. Com o poder da arte, nos deram atenção e respeito, prestígio e admiração

Um dos grandes bônus da ascensão de Fernanda Torres ao estrelato internacional é dar popularidade, influência e poder a uma artista brasileira que, além do talento dramático e cômico, tem uma grande cabeça, madura, culta e esperta, e uma poderosa imaginação, que a levou a escrever o romance best-seller “Fim”, que depois foi série de sucesso.

Além de todo o treino teatral, ela também tem uma grande rodagem em talk shows, com performances memoráveis de humor improvisado. É o que explica seu sucesso nos talk shows americanos, que vivem das piadas e respostas divertidas dos entrevistados. Um vai puxando outro, e ela já foi atração em vários, gerando muita repercussão na imprensa e nas redes.

O bônus é dar a palavra a quem estava madura e muito bem preparada para usá-la, para falar com clareza e lucidez do Brasil, dos crimes da ditadura, das atuais ameaças à democracia, do conservadorismo, do ódio de Bolsonaro aos artistas. Sempre em inglês fluente e expressivo, com graça e humor, mesmo quando é malcriada com gringos arrogantes.

E os figurinos? O que é isso? Um escândalo.

Nanda nunca foi de dar muita importância ao lado fashion de uma artista popular, mas passou a vestir, com elegância e competência, as melhores grifes, com os figurinos enriquecendo a composição de seu personagem Nanda Superstar, que está interpretando agora nos Estados Unidos e no Brasil.

No Santa Barbara Film Festival, coberta até os pés por um casacão Chanel, subiu ao palco, se sentou e deixou abrir uma grande fenda na frente do casaco, mostrando as pernas, esperou a reação do público, e protagonizou uma lenta e calculada cruzada de pernas, com um sorriso maroto que fez o auditório delirar. Um hit na internet.

E os cabelos? Cortes, cor e penteados que ressaltam a beleza e expressividade de seu rosto: seu instrumento de trabalho. Para nos fazer rir com Vani e Fátima, e chorar com Eunice Paiva. Arrasando nos tapetes vermelhos da vida, tipo orgulho nacional.

Hollywood e a classe artística americana já sabiam que ela era uma baita atriz por “Ainda estou aqui”, mas conheceram uma mulher de 59 anos cheia de charme, humor e elegância, segura do que dizia, rápida nas respostas, ótima nas piadas. Uma brasileira moderna, sem exotismo e tropicalidades, que despertou a admiração de grandes estrelas locais, como raros artistas “latinos” recebem.

Toda a campanha de lançamento internacional do filme, muito bem feita e articulada, e ajudada pela conquista do Globo de Ouro e pelas suas performances em entrevistas e talk shows, impulsionou o nome de Fernanda Torres entre as favoritas ao Oscar de melhor atriz. Mas, ganhando ou não, já ganhou como uma personalidade internacional, uma atriz espetacular de dramas e comédias, que deve ter feito vários diretores e produtores pensarem nela para seus próximos filmes.

Nanda e Waltinho estão fazendo pelo Brasil o que raros brasileiros fazem. Com o poder da arte, nos deram atenção e respeito, prestígio e admiração, que dinheiro nenhum compra.

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