Projeto de Lei quer tornar Guilherme Paraense patrono do Esporte Olímpico do Brasil

Por Deputado RAIMUNDO SANTOS (PSD-PA)
PL 723/2024
Declara Guilherme Paraense patrono do esporte olímpico brasileiro.
O CONGRESSO NACIONAL decreta:
Art. 1º Fica declarado Patrono do Esporte Olímpico Brasileiro o atleta e primeiro medalhista olímpico nacional, Guilherme Paraense.
Art. 2º Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação.
JUSTIFICAÇÃO
Até o corrente ano de 2024, em que será realizada a Olimpíada da França no período de 26 de julho a 11 de agosto, o Brasil ainda não dispõe de um patrono olímpico oficial na sua história, que sirva de referência e exemplo como justa homenagem e um símbolo a competidores e medalhistas do País que fizeram parte dos Jogos Olímpicos Modernos – e os que continuarão a representação e o legado nacional.
Nesse contexto, o nome de Guilherme Paraense, o primeiro atleta brasileiro a conquistar o ouro com a modalidade tiro em 1920, na Antuérpia, na Bélgica, na Europa Ocidental, não poderia ser mais adequado.
Nascido na data de 25 de junho de 1884 em Belém, no Estado do Pará, ele foi o principal protagonista, há 104 anos (que serão completados em agosto), de verdadeira façanha durante circunstâncias praticamente improváveis, dignas de um herói.
Com a patente de tenente do Exército Brasileiro, Guilherme Paraense, cujo nascimento entra no 140º aniversário justamente agora em 2024, é o nosso maior herói do esporte de Tiro Esportivo, um caminho pavimentado por desempenhos gloriosos e recentes de atletas de peso como Felipe Wu, Cassio Rippel, Emerson Duarte, Janice Teixeira, Júlio Almeida, Daniela Carraro, Roberto Schimits e Rodrigo Bastos.
Guilherme Paraense foi, de fato, o personagem central do que pode ser considerado como uma epopeia. A equipe que ele compôs viajou por conta própria e enfrentou diversas dificuldades nas instalações de terceira classe no navio “Curvello”, cujos camarotes eram pequenos e quentes, sem ventilação, obrigando que todos dormissem no bar da embarcação, na qual tinham de aguardar que o último cliente saísse para que pudessem descansar.
Após a constatação que não chegariam a tempo de competir, resolveram tomar um trem de carga em Lisboa, capital portuguesa, e continuar a viagem em condições precárias, à mercê de intempéries. Para complicar, dizem levantamentos, que foram roubados em Bruxelas, ficando sem munição e os alvos. Já na Antuérpia, teriam recebido ajuda de competidores norte-americanos, que emprestaram armas mais modernas, fabricadas pela famosa marca Colt.
Guilherme Paraense, então com 36 anos, conquistou a medalha olímpica na prova de pistola rápida no dia 3 de agosto de 1920, e também foi bronze por equipe na prova de pistola livre. O Brasil acabou trazendo as medalhas de ouro, prata (com o carioca Afrânio da Costa) e bronze ao fim da competição.
A equipe brasileira era formada, além de Guilherme Paraense e Afrânio Costa, o capitão, por Sebastião Wolf, Dario Barbosa, Fernando Soledade, Demerval Peixoto e Mário Maurity.
Passados 21 anos de sua morte de infarto em 18 de abril de 1968 no Rio de Janeiro, aos 83 anos, o Exército Brasileiro o homenageou batizando com o nome “Polígono de Tiro Tenente Guilherme Paraense” o conjunto de estandes de tiro da Academia Militar da Agulhas Negras (Aman), sediado em Resende, município do sul do Estado.
A história registra, no entanto, que a despeito de sua conquista épica a qual tornou-se orgulho em todos os quadrantes verdes-amarelos e derivou em fama mundial, ele teria morrido esquecido em sua própria nação. Mesmo em vida, sequer recebeu as honrarias de maior destaque a que fez jus com seu “tiro de almanaque”, embora registros informarem que teria sido homenageado pelo presidente Epitácio Pessoa (1865-1942).
Em artigo-depoimento carregado de emoção, intitulado “Guilherme Paraense – O Herói Esquecido”, que pode ser encontrado na internet, o bisneto André Luis Ogando Paraense diz que a maioria das congratulações ou distinções teve caráter póstumo. Ele chega a considerar, em amarga citação, que o icônico paraense “pode ser lembrado às vezes, mas só em cantos de página, e de quatro em quatro anos” – ele referia-se ao período de realização de cada Olimpíada.
Guilherme Paraense, ex-atleta do Fluminense e que traz o gentílico do Estado em que nasceu no nome, seguiu carreira militar, chegando à patente de coronel. Fatos apontam que ainda participou da Revolução de 1930, e que, oito anos antes, tornou-se campeão sul-americano de tiro esportivo.
Em 21 de outubro de 2016, o governo do Pará inaugurou a “Arena Guilherme Paraense”, um espaço multiuso conhecido também como “Mangueirinho”, por estar situado na área do famoso estádio de futebol “Mangueirão”, a maior praça do esporte no Estado.
Diante do exposto e tendo em vista que o tema é de grande relevância para a história do esporte olímpico brasileiro e como meritório tributo ao inesquecível medalhista Guilherme Paraense, solicito o apoio dos nobres pares na aprovação deste projeto de lei.
Sala das Sessões, 12 de março de 2024.
Deputado RAIMUNDO SANTOS
PSD-PA
