Bestialidade sem fim

Da FOLHA

Por JUCA KFOURI

A família agredida em Ribeirão Preto dá a medida do quanto a humanidade vai mal

Ainda no começo de sua vida como cronista, Antonio Prata achou singela explicação para as guerras: as pessoas em regra não têm paciência, nem educação, para segurar a porta do elevador por dez segundos e subir junto com o vizinho que está acabando de sair do carro no estacionamento do prédio.

Não é, obviamente, o caso nem da rara leitora, nem do raro leitor.

Mas, de fato, se gesto tão simples para quem vive no mesmo prédio é desprezado, ficamos todos a um pulo de atirar no próximo que nos der uma fechada ou de jogar bombas em crianças, mulheres e indefesos.

Tudo é normalizado.

O homem com duas filhas e um sobrinho, uma das filhas de 8 anos, outra de 18, e o sobrinho de 12, nas cadeiras cativas do estádio Santa Cruz, do Botafogo de Ribeirão Preto, comemoram gol do adversário, no caso, do Corinthians.

Imediatamente os quatro passam a ser atacados por um monte de marmanjos covardes e enraivecidos a ponto de a família, depois de sete minutos de hostilidades, ser retirada do local pela Polícia Militar.

Antes do início do jogo, a pretexto de comemorar os 70 anos do Doutor Sócrates nesta segunda-feira (19), as direções dos dois clubes homenagearam o ídolo que têm em comum.

O que diria o Magrão sobre a barbaridade cometida?

Aqui se criticou a hipocrisia do COI ao punir um e aliviar para outros países invasores, genocidas, racistas etc.

Perda de tempo.

Porque se uma família não pode torcer para seu time em meio a torcedores do adversário no setor das cadeiras cativas, como esperar dos poderosos comportamentos civilizados?

Se nem o vizinho segura a porta do elevador por dez segundos?!

Para piorar o episódio que certamente deixará impunes os agressores, e cujas imagens podem ser vistas facilmente na Internet, a diretoria do Botafogo soltou nota oficial em que “lamenta” o episódio, “repudia” qualquer violência, mas, adverte: a família não deveria estar onde estava.

Como é?! A direção do clube anfitrião defende que pessoas pacíficas não podem torcer no meio de outros torcedores em setor de elite de seu estádio?

Faz a demagogia de sempre e passa pano para os cafajestes?

Então, admitamos, a conclusão é inescapável: o problema não está nas torcidas organizadas como se diz por aí, mas nos torcedores em geral, no ser humano em particular, este projeto que, definitivamente, deu errado.

Qualquer semelhança com as atitudes do Comitê Olímpico Internacional é mera coincidência?

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