No início de 2018, a judoca O. E. H. (14), ex-São Paulo, com mais de 80 medalhas e troféus no currículo, passou a competir pelo Corinthians, chegando às finais do Campeonato Paulista de Judô.

Até então, nunca havia se lesionado.

No final daquele ano, o Timão decidiu substituir o Diretor Técnico do departamento e, ao que parece, o inferno na vida da atleta começou.

Os treinos foram intensificados e não respeitariam, segundo relatos, a condição física dos adolescentes e, tão grave quanto, as regras básicas do Judô.

Passaram a se preparar juntos atletas de sexo oposto, categorias de pesos diferentes, idades, alturas e demais compatibilidades.

Muito provavelmente por conta desse procedimento, no dia 19 de março de 2019, durante um desses treinamentos, O. se viu obrigada a ‘enfrentar’, por ordem de Geneses Lima, o garoto J. M. G. C., 20 Kg mais leve do que ela.

De acordo com o Ato Normativo 003/2019 da Federação Paulista de Judô a tolerância de de peso permitida para classificação entre atletas é de apenas 100 gramas.

Em meio à ‘luta’, o jovem atleta, por razões óbvias, e sem culpa, não aguentou sustentar a adversária, interrompendo o movimento do golpe, travando os dois braços de O., impedindo que ela pudesse se proteger da queda.

Os 84 kg da judoca foram lançados sobre seu braço esquerdo, deslocando em grande luxação, causando-lhe dores terríveis.

Resgatada por ambulância, O. foi levada ao Pronto Socorro, local em que constatou-se grave lesão no ombro.

Desde então, segundo avaliação médica, pouco após iniciada, a promissora carreira esportiva de O. – ao menos no Judô – estava encerrada.

Por conta de estar em fase de crescimento, a indicação de tratamento, em vez de cirurgia, foi a de fisioterapia.

A família de O. solicitou ao Corinthians ajuda para as despesas médicas.

O clube respondeu que o que poderia fazer era permitir o procedimento no setor de fisioterapia alvinegro.

Segundo os pais de O., nova irresponsabilidade teria sido cometida.

Apesar da prescrição médica exigir tratamento conservador, sem a liberação de altas cargas, no dia 14 de junho de 2019, os fisioterapeutas do Timão pediram que a judoca realizasse exercícios que simulavam movimentos do judô – tudo o que ela, em tese, estaria proibida de fazer.

As dores se intensificaram, mas, em resposta, os profissionais alvinegros disseram à família que tratava-se reflexo natural das seções.

Três dias depois, pouco mais de 90 dias após a lesão principal, segundo os familiares de O., o fisioterapeuta Gustavo Sousa Leal da Mata abriu no solo uma esteira de nome “slide”,  equipamento escorregadio utilizado para gerar instabilidade a fim de intensificar o estimulo da força pelo paciente, e instruiu a garota a deitar de barriga para o chão, esticando o braço esquerdo em ângulo de 90 graus, erguendo o direito para, através do uso da força apenas o ombro lesionado sustentasse seu corpo.

Detalhe: na demonstração, o médico não teria conseguido realizar o exercício.

Como resultado da imprudência, O., pela segunda vez, lesionou o ombro esquerdo.

A família relata que, em meio ao novo desespero, humilharam-se para que a filha fosse atendida pelos médicos do clube – que estariam relutantes em fazê-lo.

No dia 28 de junho, o Dr. Jorge Garces Lobo, que acompanhava o tratamento de O., teria relatado que procedimento fisioterápico prestado pelo Corinthians descumpriu as prescrições médicas.

Posteriormente, novos exames de imagem (Tomografia Computadorizada e Artroressonância de ombro) foram realizados, constatando o agravamento da lesão.

Desde então, a família tenta ser amparada pelo Corinthians, que tem se esquivado da responsabilidade.

Por conta disso, o clube acaba de ser processado e, se comprovada a sequência de erros, poderá ser condenado não apenas a ressarcir os custos das despesas médicas, mas também pela interrupção de uma carreira, até então, comprovadamente vitoriosa.

O diretor de Esportes Terrestres do Corinthians, responsável pelo departamento de judô, é o folclórico Donato ‘da erva’ Votta, ex-integrante do movimento ‘Fora Dualib’.

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