Da FOLHA DE SÃO PAULO

Por JUCA KFOURI

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Até o governador de São Paulo, em seu Twitter, quer saber. E não acredita na teoria do bode expiatório

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O QUE FAZ a força dos técnicos é também a razão da fraqueza deles. Supervalorizados antes e durante a permanência nos clubes, super-responsabilizados na hora da dispensa. Simples assim.

Apesar de José Serra não acreditar, tem, ainda, uma boa dose mesmo de o técnico ser tratado feito bode expiatório, embora não seja a maior parte.

Mas é sempre conveniente ter um sangue fresco para entregar diante da sede assassina dos torcedores ditos organizados.

Quando vemos uma frenética dança de técnicos, como nos últimos dias, é inevitável que nos lembremos de que sir Alex Ferguson está há mais de duas décadas no Manchester United ou de que Lula ficou mais de 12 anos no Santos.

Claro que há quedas e quedas, algumas mais justificáveis que as outras, umas normais, outras não.

Nas recentes, por exemplo, gente como Carlos Alberto Parreira, Vagner Mancini e Márcio Bittencourt caiu pelos motivos clássicos, os maus resultados do Fluminense, do Santos e do Náutico.

Já Vanderlei Luxemburgo caiu por provocação, porque quis testar se mandava mais que o presidente do Palmeiras e se deu mal, talvez por viver num mundo sombrio em que a gentileza seja confundida com tibieza.

E Muricy Ramalho caiu por desgaste na relação, porque, desgraçadamente, permanecer durante três anos à frente do mesmo clube parece o máximo que se admite por aqui, uma façanha por si mesma.

De todos os que se mantêm, Tite é o que corre maior risco neste fim de semana de Gre-Nal, embora a direção colorada garanta que não, o que será digno de elogios se, de fato, vier a se confirmar, pois raramente trocar de treinador é a solução.

Mas é por ganharem muito, exageradamente muito, por serem tratados como mágicos, por se darem e receberem uma catedrática importância que não têm, que a corda arrebenta para o lado deles.

Porque de mágicos se exigem mágicas, de professores se esperam aulas, de salários exagerados se cobram resultados compensadores. E cartolas, como se sabe, por mais bobagens que cometam, não caem. Ao contrário, batem recordes de permanência nos cargos.

E tudo isso apesar de sabermos como são circunstanciais as situações que fazem deles bestas ou bestiais, Mano Menezes que o diga.

Não fosse tudo que cercou a “Batalha dos Aflitos”, eis que o Grêmio não teria cumprido sua obrigação de subir e ele teria sido demitido, para provavelmente vagar por clubes menores.

Mas um árbitro fraco e jogadores fortes operaram uma reviravolta que permitiu, em seguida, que Mano chegasse ao improvável vice-campeonato da Libertadores.

Pronto! Daí para o Corinthians foi um pulo e não é preciso dizer mais nada, pois ele é hoje do pelotão de frente dos técnicos brasileiros.

Como Dunga, que, sem nunca ter sido técnico, aos trancos e barrancos, entre gritos e sussurros, caneladas e sacadas, curte uma estabilidade que seus colegas invejam.

Porque assim é o futebol, invariavelmente decidido por acasos que viram méritos indevidos ou culpas injustas deles, os técnicos.

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