Por AGÊNCIA SENADO

Data de Publicação: 9 de novembro de 2000

Na qualidade de ex-procuradora do  técnico Wanderley Luxemburgo, com plenos poderes, a estudante de Direito carioca Renata Alves revelou nesta quinta-feira (dia 9) à Comissão Parlamentar de Inquérito(CPI) do Futebol Brasileiro como o ex-treinador da seleção montou e operou uma rede de negócios que envolvia o recebimento de comissões pela escalação de jogadores, uso de imagem, compra e venda de veículos e transferência de dólares ao exterior.

Uma parte das informações foram fornecidas por meio de documentos ou na parte secreta do depoimento.

As revelações mais importantes foram feitas a partir de perguntas do relator da CPI,senador Geraldo Althoff (PFL-SC), que obteve da depoente respostas quase sempre precisas,e mesmo detalhes, sobre o complexo e tumultuado dia a dia de Luxemburgo.

Conforme Renata Alves, que trabalhou com o treinador de 1993 a 1997, Luxemburgo se dizia um homem”muito rico e poderoso”, titular de contas correntes e imóveis no exterior,cujo sonho era um dia morar na Europa.

De 1990 a meados de 1991, a relação de Luxemburgo e Renata não teria passado de um namoro, iniciado depois de uma abordagem do técnico ao carro da estudante.

Só em 1993,quando ela já tinha outro namorado e um filho, é que Luxemburgo a teria convidado para ser sua “procuradora”.

No entanto, durante a fase profissional do relacionamento, Luxemburgo a “chamou” várias vezes a São Paulo para”acalmá-lo”, segundo relatou.

O motivo alegado pelo treinador para convocá-la era sua tensão em face das pressões para convocar este ou aquele jogador do Palmeiras.

Renata afirmou que Luxemburgo ganhava muito dinheiro escalando ou indicando jogadores para contratação.

Citou os apoiadores Mancuso e Macula, do Palmeiras.

Entre os empresários com quem ele mantinha estreita conexão estavam Sérgio Maluccelli, do Paraná, e o espanhol Juan Figer.  

Maluccelli era também conselheiro de Luxemburgo.

Reuniam-se com freqüência na “embaixada”, mansão localizada na Barra da Tijuca, bairro do Rio de Janeiro, aonde também iam integrantes da Comissão Brasileira de Futebol (CBF).

A principal função de Renata era comprar carros em leilões judiciais, transferindo-os em seguida para a Luxemburgo Veículos, que os revendia logo em seguida com alta margem de lucro.

Em função dessas operações, a ex-procuradora está sendo processada pela Receita Federal por sonegação de imposto de renda.

– Quando procurei o Luxemburgo para saber o que fazer em relação a esse processo ele me disse simplesmente “vire-se” – contou Renata em seu depoimento.

Além de acusar Luxemburgo de ser o verdadeiro sonegador, ela reclama dele R$ 1,4 milhão em direitos trabalhistas, já que viajava pelo Brasil, sem feriado ou fim de semana, para arrematar os carros e trazê-los até o Rio.

Ela recebia dez salários mínimos fixos mais 20% de gratificação sobre o valor dos lotes arrematados.

Renata usava o seu apartamento como base das operações com Luxemburgo.

Ali ele assinava cheques e ela, folhas de papel ofício em branco, necessárias à transferência de valores e titularidades dos veículos comercializados.

Na casa dela, Luxemburgo também deixava a pasta 007 em que guardava os dólares recebidos pelas comissões de seus negócios com jogadores.

O treinador dizia receber de US$ 100 mil a US$ 130 mil por semana,dinheiro que era transferido para contas bancárias em paraísos fiscais, inclusive nas Ilhas Cayman.

– Muitas vezes ele estava em reunião e eu atendia o celular.

Era alguém dizendo que o dinheiro já estava no exterior.  

Eu achava que as comissões eram normais e éticas, porque ele falava sobre isso de maneira aberta – relatou a Renata.

Em várias ocasiões, Renata foi encarregada por Luxemburgo de transportar a pasta 007 para entregá-la ao treinador ou guardá-la em casa .

Sempre que os dois fizeram viagens internacionais, ela pôde testemunhar outro aspecto do fausto e poder vividos pelo técnico:

– Ele nunca era revistado na alfândega – contou Renata.

Esse privilégio era estendido a ela, que disse pagar com rotina estressante e submissão o ingresso no mundo milionário dos negócios com o futebol.

– O Luxemburgo não me deixava falar com ninguém, mas me falava muita coisa.

Me disse que ganhava comissão até por beber um copo d”água ou usar um boné – completou.

Renata disse suspeitar que o treinador contratava outras pessoas para função semelhante em outros pontos do Brasil.

Certeza mesmo ela tem sobre o esquema montado pelo treinador para legalizar suas atividades extra campo: cinco contadores da Parmalat, ex-patrocinadora do Palmeiras, se encarregavam de maquiar balanços, declarações de renda e outros documentos contábeis, permitindo tranqüilidade a Luxemburgo para realizar operações como a compra de imóveis no exterior.

– Ele me disse que comprou um apartamento nos Estados Unidos – Disse Renata. Segundo ela, Luxemburgo a obrigou a contrair empréstimos bancários fictícios.

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