Por MAURICIO SAVARESE
De Pequim
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Acordei cedo no domingo para fazer junto de um amigo que estuda aqui um dos trajetos da Grande Muralha da China. Logo às 7 da manhã dava para ver em um quarteirão ao lado uma horda de homens saindo de casinhas mal ajambradas e cercadas de tapumes.
São migrantes. Vieram para construir instalações olímpicas, mas são proibidos de permanecer na cidade durante os Jogos. E mesmo que pudessem, não teriam condição de pagar pelos ingressos, nem sequer os que custam o equivalente a sete reais.
São esses os que mais estranham a presença de estrangeiros. Ao ponto de pararem na sua frente, te medirem dos pés à cabeça e fazerem cara de espanto sem a menor parcimônia. Muito exótico.
Este país se diz “socialista com economia de mercado”. Seja lá o que isso quer dizer, o fato é que há milhões de migrantes como os deste bairro periférico de Pequim e eles não vão participar da festa.
A pouco mais de 100 quilômetros da cidade, visitei um dos trechos da Grande Muralha da China no domingo. Com a ajuda de um tradutor, conversei com alguns dos guias locais, que te encontram no meio do caminho e oferecem um tipo de hospitalidade intrusivo e algumas lembrancinhas por valores módicos.
Perguntei a uma das guias, de pele e dentes surrados pela falta de cuidado, se ela pretendia assistir aos Jogos, nem que fosse pela TV. A resposta da senhora, cujo nome não me atrevo a tentar escrever, foi de que não há tempo: depois de passar o dia levando turistas, ela tem de plantar grãos à noite para garantir o sustento.
Nessa mesma condição vivem outras 73 pessoas que residem aos pés dessa parte da muralha e dos turistas que ali frequentam.
É para esses turistas que as Olimpíadas de Pequim foram feitas, com muita economia de mercado e bem pouco socialismo.
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Mas são migrantes e camponeses felizes e de muita sorte, pois podem colaborar com a construção da grande POtência Socialista da China e com o prosseguimento da obra de Mao, contando com todos os benefícios sociais e previdenciários do INSS chines e também com ajuda do Bolsa Família daquele País, que atende a todos os habitantes, sem qualquer distinção de classe social, etnia ou mesmo necessidade de filiação partidária.