Milei estende um pires a Trump; Lula oferece um cafezinho

Da FOLHA
Por ALVARO COSTA E SILVA
- Argentino quer selar acordo com os EUA para impedir desastre financeiro
- Impacto da chantagem norte-americana em relação ao Brasil é menor que o estimado
O principal candidato de Javier Milei a deputado nacional pela província de Buenos Aires nas eleições de 26 de outubro, José Luis Espert, desistiu de concorrer. Ele não conseguiu explicar por que recebeu US$ 200 mil (cerca de R$ 1 milhão) de Fred Machado, preso por tráfico internacional de droga e na fila de extradição para os Estados Unidos.
Diante dos fatos, mais uma vez o presidente argentino meteu o “loco”. Vestiu uma jaqueta de couro, desalinhou os cabelos e costeletas e tentou emular o ídolo do rock Charly García na casa de espetáculos Movistar. Uma paródia ridícula da liberdade.
Segundo mostram pesquisas recentes, a desaprovação ao regime “libertário” disparou com o fracasso da política econômica, o aumento do desemprego e, sobretudo, os seguidos escândalos de corrupção, o principal deles envolvendo Karina Milei, irmã e secretária-geral da Presidência. O cérebro que, dizem, de fato manda no país.
Modelo da direita e da extrema direita no Brasil, Milei está de pires na mão, desesperado para selar o acordo com Donald Trump e impedir um desastre financeiro de grandes proporções —ou seja, a volta ao normal da Argentina nos últimos anos. À espera da ajuda dos EUA, o Tesouro está queimando seus depósitos em dólares para sustentar o peso.
O Brasil também negocia com Trump. Mas, como dizem os boleiros, em outro patamar. Dois meses depois da entrada em vigor do tarifaço, o impacto por aqui é menor do que se esperava. Mais atingidos, café, carne e açúcar passaram a buscar novos mercados. Politicamente a chantagem não deu certo. Bolsonaro foi condenado, a anistia enguiçou e Lula agarrou-se à bandeira da soberania, recuperando prestígio eleitoral e até colhendo umas poucas vitórias na Câmara, disfuncional e dominada pela oposição.
Quem diz que está com saudade de beber o cafezinho brasileiro não quer guerra com ninguém. Ou calcula a melhor jogada. Em se tratando do errático Trump e de seu preposto marrento, Marco Rubio, é bom ficar esperto. Pôr as brancas barbas de molho.
