Durante a semana, em entrevista coletiva, o diretor de futebol Roberto Andrade detalhou episódio inserido numa série de promiscuidades, ao longo de mais de uma década, do Corinthians com o agente Carlos Leite.

Nos balanços recentes do clube, tanto o de 2019, quanto 2020, constam dívidas de empréstimos, acumulados desde 2015, provenientes do intermediário, no valor corrigido de R$ 9,5 milhões.

Destes, R$ 4,1 milhões foram tomados, originalmente, no início de 2018, a juros de 1,94% ao mês.

Disse Roberto:

“Esse valor (de empréstimo), por exemplo, que aparece que deve ao Carlos Leite foi na aquisição do Matheus Vital, que nós não tínhamos recurso e acabamos fazendo com o Vasco”

“A única forma de pagar qualquer terceiro é um contrato de mútuo”

Carlos Leite e Mateus Vital

A revelação de que o Corinthians comprou um jogador com dinheiro do próprio agente do atleta é absolutamente escandalosa.

Principalmente pelos fatos que serão explicados a seguir.

O Corinthians acertou a compra de 85% dos direitos econômicos de Vital, no dia 16 de janeiro de 2018, pelo valor – segundo próprio balanço alvinegro, de R$ 8.219.000,00.

Destes, o clube quitou apenas R$ 5,7 milhões (a maior parte com dinheiro do empresário), ou seja, deve ainda, aproximadamente, R$ 2,5 milhões.

Levando-se em consideração que a pendência com Leite segue aberta, quase nada está, devidamente, honrado.

Existe ainda o valor de comissionamento devido ao agente/emprestador, na casa de R$ 821 mil.

No mesmo mês em que realizou esse ‘rolo’ com o Corinthians, Carlos Leite foi flagrado pagando R$ 200 mil (com direito a recibo!) que, segundo apurado pela Comissão Eleitoral alvinegra, seriam utilizados para comprar votos de associados nas eleições realizadas 30 dias depois (pagando mensalidades em atraso com o clube).

Ou seja, uma mão sujando a outra.

À parte desse escândalo, promovido pelo então presidente Roberto Andrade, surge outro problema, tão grave quanto, que precisa ser enfrentado pelos conselheiros do Timão: a evidência, clara, de fraude contábil.

O próprio ex-mandatário, agora diretor de futebol, na entrevista, confessa que a transação de empréstimo, discriminada no balanço, tratou-se de manobra para ocultar detalhes sórdidos da transação de Vital.

Ou seja, o que está escrito não é o que verdadeiramente aconteceu.

Se havia dados suficientes para reprovação das contas do Corinthians nos anos recentes, essa confissão de Andrade, que, na época dos fatos, foi afastado da própria empresa em que trabalhava sob acusação de roubo, acaba por martelar o último prego no caixão.

Mas a gravidade do fato pede mais do que isso.

Durante a semana, noticiou-se que os quatro ex-oposicionistas que aderiram à gestão em cargos no departamento jurídico estariam trabalhando para a criação de um departamento de compliance.

Em sendo verdade, não apenas casos futuros, mas também os pretéritos, que impactam nas atuais contas do Corinthians, precisam ser investigados, denunciados, com exposição pública dos infratores, não sem antes indicá-los à punição pelo expediente interno alvinegro e, se for o caso, também nas esferas policiais.

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