Complexo ou síndrome ?

(Trecho da coluna de JUCA KFOURI, na FOLHA)
Que fique bem claro: a Olimpíada brasileira tinha que ser, como será, no Rio, como dito aqui dezenas de vezes.
Dito isso, redundemos: torcer contra seu sucesso é tão mau jornalismo como esconder suas mazelas.
Não foi o prefeito de Maricá quem disse que a segurança no Rio é horrível, que a Olimpíada foi uma oportunidade perdida e que a cidade não é Londres ou Nova York.
Do complexo de vira-latas sofre quem esconde a sujeira embaixo do tapete, fecha os olhos para o superfaturamento das obras, é complacente com a corrupção em nome do desejo, compartilhado por todos nós, de que tudo dê certo.
Ou será síndrome de cadela no cio?
O fato é claro: a Rio-16 está cercada de mais temores que a Copa do Mundo na África do Sul.
Lá, sabia-se, que havia o perigo de cartões de crédito serem clonados a granel. E foram.
Táxis jamais deveriam ser pegos na rua, porque haveria risco de o motorista ser assaltante.
Jamil Chade, de “O Estado de S. Paulo”, pegou um no estádio de Pretoria e ficou sem tostão, sob faca.
Dois jornalistas desta Folha tiveram, em Joanesburgo, que não estava sob calamidade pública, seus cofres violados no hotel credenciado pela Fifa (sim, é claro, pela Fifa…!) e alguns milhares de dólares furtados por funcionários do estabelecimento, embora, menos mal, tenham sido reembolsados rapidamente.
Mas tiroteio como o de anteontem na Linha Vermelha, passagem obrigatória entre o aeroporto do Galeão e a Vila Olímpica, não houve nenhum 20 dias antes de a Copa começar. Nem durante.
O terrorismo são outros 500.
Que nem Munique, Nova York, Orlando, Londres, Paris, Bagdá, Nice, Madrid ou Istambul conseguem lidar.
Vira-latas ou cadelas no cio?
