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EDITORIAL DA FOLHA

É de certo modo surpreendente, e sem dúvida consternador, que a cem dias de sua abertura a Olimpíada do Rio de Janeiro conheça os maiores abalos em sua imagem.

A primeira edição do evento esportivo a ser realizado na América do Sul encontra-se cercada de desconfiança praticamente desde outubro de 2009, quando a capital fluminense foi escolhida para sediar a competição. Em tese, houve tempo suficiente para enfrentar problemas diversos —e provar infundados os questionamentos.

Dá-se o contrário, contudo. Da epidemia de zika ao fracasso na meta de despoluição da baía de Guanabara, sede das competições de vela, passando pela crise política e econômica, são muitos os aspectos que têm suscitado preocupação.

A escalada de más notícias associadas à Rio-2016 teve seu ápice na semana passada, quando desabou um trecho da ciclovia na avenida Niemeyer, uma das poucas obras de legado dos Jogos já inauguradas. Duas pessoas morreram.

Registrada no mesmo dia em que se acendia a tocha olímpica na Grécia, a tragédia reverteu a publicidade positiva que se imaginava para a data. Sinalizou ao mundo que são pertinentes as dúvidas sobre a capacidade do país para realizar evento esportivo dessa magnitude.

Além dos atrasos em obras de arena e de legado —destaque para o Velódromo e a linha 4 do metrô–, o colapso da ciclovia e as falhas em equipamentos esportivos durante eventos-teste, como o da natação, mostram que nem quando os trabalhos foram concluídos é possível sentir-se tranquilo.

A esses problemas somam-se suspeitas de desvios por um tempo encobertas pela falta de transparência propiciada pelos organizadores —notadamente o prefeito Eduardo Paes (PMDB).

Dado que empreiteiras investigadas no escândalo do petrolão respondem pela maior parte das construções, parecia inevitável que a Operação Lava Jato avançasse sobre os Jogos. A força-tarefa de Curitiba já encontrou indicações de suborno na revitalização da região portuária e na expansão do metrô –e não deve parar por aí.

Como se fosse pouco, ainda há mais um possível dano: dado o atual calendário do impeachment, é provável que o país passe pelo constrangimento de ter, durante os Jogos, uma presidente afastada, mas não de fato destituída.

O Brasil poderia ganhar projeção simbólica com a Olimpíada do Rio; a esta altura, parece fadado a receber novas máculas em sua imagem.

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